Plantas de Portugal - Azevinho

De tempos a tempos, na Praça, falarei das plantas do nosso país com potencial para serem utilizadas nos jardins enquanto ornamentais. Coube ao azevinho (Ilex aquifolium), também conhecido como xardo, zebro, visqueiro ou pica-folha, ser a primeira, pela importância e pelo carinho que esta planta goza entre nós.
De porte arbustivo ou arbóreo, pode alcançar 8-10 metros, sendo que normalmente o seu desenvolvimento é lento, preferindo ambientes de meia-sombra, fundamentais para um maior ritmo de crescimento, e solos frescos e ácidos. Os exemplares espontâneos ou aqueles que não sofreram intervenção humana, são plantas dióicas (com exemplares de flores femininas e masculinas em plantas distintas), só nos exemplares femininos se desenvolvem os desejados frutos vermelhos que lhe dão tanto encanto.
Convém referir no entanto que existe uma multiplicidade de variedades e híbridos disponíveis no mercado, com formas e cores de folhas absolutamente diversos (variegados, com muitos espinhos, sem espinhos, etc), que apresentam em muitos casos plantas monóicas e por isso, autoférteis, graças a enxertias de borbulha, por exemplo.
São muito resistentes à poluição, mas algo sensíveis a pragas, como as cochonilhas ou doenças, como a fumagina, relativamente fáceis de tratar.
Toleram bem a poda regular, que pode até servir para estimular o seu desenvolvimento. Apesar de ser uma espécie protegida (Decreto-Lei nº 423/89 de 4 Dezembro) há cerca de 20 anos, ainda se continua a apanhar ilegalmente na natureza, o que tem contribuído, juntamente com outros factores, para que esta seja mais uma planta em vias de extinção em Portugal. A venda de ramos e plantas envasadas é legal, e uma boa forma de contribuir para a sua conservação. Vamos todos cultivar um azevinho?

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Mini-curso de PAM na Ilha Terceira

Está programado um mini-curso de plantas aromáticas, medicinais e condimentares na Universidade dos Açores, nas instalações do Pico da Urze, Terceira.
O limite da inscrição é até 22 de Novembro. Assim haja número mínimo de participantes, decorrerá a 28 de Novembro, das 10,00 às 18,00 e a 29 de Novembro, das 10,00 às 13,00 horas. Para mais informações, clicar aqui:

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Citrinos - 'os limoeiros e as coças'

Há uns anos atrás mantive na Antena 1 uma rubrica semanal de 1 hora, em directo, chamada "O Mundo das Plantas", transmitida para toda a Lusofonia. Fosse qual fosse o tema apresentado, tinha sempre uma chamada telefónica (ainda não se usava internet como agora) em que alguém dizia: 'Desculpe, tenho uma pergunta que não tem nada a ver com o tema de hoje, mas lá em casa tenho um limoeiro que não produz limões, será que lhe devo dar uma coça?!!!'
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Confesso que fiz desta pertinência um caso-estudo sobre a matéria, que facilmente me permitiu perceber que existe entre os portugueses uma espécie de relação antropomórfica com os citrinos em geral e os limoeiros (Citrus x limon) em particular, não perceptível com qualquer outra espécie de planta que conheça, e que leva as pessoas a violentarem as suas árvores, esperando que, humilhadas, castigadas, vergadas, pregadas, possam finalmente produzir os tão cobiçados frutos. Um daqueles mitos com fundamento científico, como explico neste vídeo. Já agora, deixo bem claro que não defendo qualquer tipo de coça em limoeiros ou outra árvore qualquer!!!

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Repto ao novo ministro da agricultura

Na edição impressa de ontem, O PÚBLICO lançou o repto a personalidades de diferentes áreas da vida pública para que confrontassem os ministros do novo Governo com as medidas que consideram prioritárias. No DESTAQUE, deixei o meu:
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Luís Alves/Agricultor
"Num país com um mosaico fitogeográfico peculiar e único, onde se faz má gestão do solo, já de si pobre, gostava que o próximo ministro da Agricultura fizesse um esforço sério no sentido de fazer perceber a todos os portugueses que a agricultura do seu país, no mundo para o qual caminhamos, é uma questão de segurança nacional, que ultrapassa todos os interesses individuais e respeita ao bem comum".
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Apenas porque ultrapassava o número de caracteres da coluna, faltou incluir a primeira frase deste texto, que reza assim:
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"Vejo o futuro da agricultura portuguesa como um empreendimento arrojado, que só poderá evoluir com o poder simbiótico das relações humanas, de diferentes áreas da sociedade".
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*** António Serrano é o novo Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e Pescas. Tal como todos os agricultores, e aqueles que hoje o querem ser, aguardo com expectativa o seu trabalho e faço votos para que tenha força política para implementar as medidas fundamentais ao futuro deste sector vital da sociedade portuguesa.

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Cogumelos em casa

Já se encontram disponíveis aqui os sacos de produção caseira de cogumelos que tanta procura tem suscitado nos últimos tempos.
Manuseamento do saco
O cultivo de P. ostreatus é realizado dentro de casa. O substrato já inoculado encontra-se dentro de sacos de cultivo, que apenas tem de ser colocados no nos locais de incubação\frutificação. No Inverno deve escolher-se um local quente. A temperatura óptima para o desenvolvimento do fungo situa-se entre os 15-25 ºC. A luz é importante para a fase de frutificação, mas não deve receber directamente luz solar.

Produção:
Decorridos 22 a 30 dias após a inoculação, surgem os primeiros primórdios (pequenos pontos brancos, que vão originar os cogumelos), que ao fim de 4 a 6 dias estão prontos para a colheita. Cada saco produz em média 2,5—3 Kg de cogumelos, distribuídos por três frutificações. Após uma frutificação, o fungo entra em “descanso” durante duas ou três semanas, até iniciar a frutificação seguinte, com o aparecimento de novos primórdios. A duração dos sacos é de cerca de 75 dias.
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Colheita:
Os cogumelos devem ser cortados pela base, com uma faca limpa. O chapéu tem um diâmetro que varia de 6 a 10 cm e deve ser colhido ainda com a margem enrolada para dentro. Deixo um vídeo com mais pormenores.

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Sábado Aromático 2009

O Núcleo do Porto da Quercus vai realizar no dia 7 de Novembro, pelas 10 horas, no Cantinho da Aromáticas, uma desgarrada gastronómica com o CHAKALL, conhecido chefe alquimista gastronómico, que transforma ingredientes surpreendentes em verdadeiros elixires de prazer. E eu lá pelo meio, intrometendo-me sempre que puder, adicionando ervas, histórias e alegria.
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Neste evento pode contar com um workshop de culinária com ingredientes de agricultura biológica de onde surgirá o almoço, provas de ervas aromáticas, visita guiada à quinta e uma surpresa no final. Deslumbre-se ao som da cítara com os aromas e paladares que se vão libertar dos tachos e panelas do chefe Chakall e fique a conhecer quase todos os segredos para uma alimentação saudável e saborosa.

Informações Úteis

Preço
• Sócios – 20€
• Não Sócios – 28€

Pagamento

Na sede da Quercus (na Quinta da Gruta – Maia) ou por transferência bancária. Envie o seu nome, nº de telemóvel, nº de sócio (se aplicável) e comprovativo de pagamento para porto@quercus.pt
Pagamento através do NIB: CGD 0035 0730 0003 2687 6307 6
As inscrições só serão válidas após envio de comprovativo de pagamento e ficha de inscrição, estando sujeitas a um e-mail de confirmação.

Inclui:

- uma aula de culinária;
- provas de ervas aromáticas;
- almoço biológico;
- visita guiada à quinta;
- planta aromática;
- malga Quercus;
- certificado de participação.

Contactos:
Célia Vilas Boas
Tel: 222 011 065
Tlm: 931 620 212

E-mail: porto@quercus.pt
URL: http://porto.quercus.pt
Data limite de inscrição: 1 de Novembro

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Campanha 350

A 350 é uma campanha internacional cujo objectivo é alertar o mundo para o problema das alterações climáticas. Será no próximo dia 24 de Outubro que várias organizações de todo o mundo se reunirão pela mesma causa.
Em Portugal, a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza – é a principal apoiante desta campanha, e está encarregue de organizar várias manifestações ao longo de todo o território nacional.
Nesse dia, pequenas e grandes manifestações farão o mundo parar e olhar esta situação.
As principais acções decorrerão no Porto e em Lisboa. Na cidade invicta, a ponte D. Luís será cenário de concentrações de um grande número de pessoas incluindo desportistas, que a tomarão como ponto de partida para percursos de bicicleta, caminhadas, regatas de barco à vela e canoagem.
Em Lisboa, a principal manifestação terá lugar junto ao Padrão dos Descobrimentos, onde se pretende que as pessoas se juntem para tirar um foto colectiva formando um grande “350”. Por todo o país serão realizados outros “movimentos 350” tais como concertos, recolhas de lixo, auditorias sobre energia e conservação da natureza, plantações de árvores, etc.
Cada pessoa pode iniciar um “movimento 350”, plantando um jardim, escrevendo uma carta aos principais líderes governamentais, dando uma palestra, fazendo uma simples mudança de lâmpadas normais para lâmpadas de baixo consumo, passando e-mails…
Dia 24 de Outubro o importante é não ficar em casa. É preciso fazer alguma coisa pela saúde da Terra. Inscrições aqui:

Sede e Secretariado da Direcção Nacional
Centro Associativo do Calhau
Bairro do Calhau
Parque Florestal de Monsanto
1500-045 Lisboa
Telefone: 21 778 8474
Fax: 21 778 7749

Projecto Condomínio da Terra
Condomínio da Terra
Praceta das Camélias, 58
4430-037 Gaia
Portugal
Telefone: 223 749 249

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Revista Segredo da Terra nº 18 - Pequenos frutos no MPB

Para saber mais sobre o cultivo de pequenos frutos em modo de produção biológico, este número do Segredo da Terra é fundamental. Mostrando o exemplo de diversos produtores no país, bem como as mais recentes tecnologias de produção. Disponível aqui:


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Frutos silvestres na Praça

Tipicos das zonas mais frias da Europa e Estados Unidos, são ainda pouco comuns na ementa habitual dos portugueses. Contribui para isto o facto de o preço não ser acessível a todos, bem como a sua disponibilidade irregular nos mercados, pelo menos enquanto produto fresco. São ácidos, mas doces, e representam uma excelente fonte de antioxidantes, uma espécie de “elixir da juventude”.
Apesar de nos referirmos a estes como frutos silvestres, provém normalmente de cultivo, pelo que a designação mais utilizada actualmente é a de pequenos frutos. Graças à sua estrutura frágil, a colheita envolve grande cuidado no manuseamento e acondicionamento, de forma a aumentar o seu período de conservação.
Embora produzir pequenos frutos envolva um investimento inicial numa boa preparação do solo, na qualidade das variedades a adquirir, uma vez estabelecidas, todas requerem baixa manutenção anual, sobretudo podar e nutrir.
A contrapartida por tão pequeno esforço é o enorme prazer de ir o jardim num dia de Verão colher framboesas frescas ou uma taça de sumarentos mirtilos e poder usá-los em sumos, saladas de frutas, compotas, tartes, etc, além de, em cultivos organizados, poderem representar uma forma de vida para o agricultor.
No entanto existe muito pouca informação disponível sobre estas plantas, além do número limitado de variedades no mercado nacional. Uma enorme confusão pode subsistir no comprador na altura de escolher as variedades mais adequadas para a sua situação em particular, pelo que convém recorrer a um viveiro de confiança. Graças às suas cores chamativas e formas apetecíveis, o cultivo envolve protecções com redes e estruturas anti-pássaros, já que estes, quando os frutos estão prontos a ser colhidos, chegam sempre primeiro!!!

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Pequenos frutos

Framboesas (Rubus sp.) – Embora ocupem mais espaço do que qualquer outro pequeno fruto, são deliciosas e conservam-se bem no frio, permitindo desfrutar meses após a colheita. Existem variedades não-remontantes e variedades remontantes. As primeiras tem grandes necessidades de frio e frutificam nos ramos do ano anterior. Estão bem adaptadas ao centro norte do país. No sul algumas tecnologias de produção envolvem retirar as plantas da terra, colocá-las em frigorificos, a cerca de 4º C, durante mais de 70 dias!!! É um método dispendioso, mas permite a colocação das plantas em estufa em Dezembro/Janeiro, tornando possível o início da colheita 3-4 meses depois. As remontantes tem baixas necessidades de frio, permitindo o cultivo em qualquer região do país. Frutificam nos lançamentos do ano, sendo que a produção ocorre de Junho-Julho até Setembro, ou de acordo com a tecnologia de produção adaptada (podas).


Amoras (Rubus sp.) – Cultivo semelhante ao das framboesas não-remontantes, frutificam em ramos laterais que se formam no ano anterior. Os frutos maduros apresentam maior dificuldade de conservação. Convém referir que existem amoras de silva (Rubus fruticosus), amoras de amoreira-branca (Morus alba) e amoras de amoreira-preta (Morus nigra), as duas últimas árvores de médio e grande porte, respectivamente.


Mirtilos (Vaccinium sp.) – A espécie espontânea em Portugal Continental (Vaccinium myrtillus) é um arbusto pequeno, apresentando baixa produtividade. Nos Açores surge o Vaccinium cylindraceum, um endemismo de maior porte. As variedades que surgem no mercado estão melhoradas, com material genético de espécies da América do Norte, podendo atingir 5 metros de altura! Gostam de solos arenosos e ácidos (pH 4,5-5,5), apresentando diferentes necessidades de frio, de acordo com as variedades. Se o solo lá de casa for alcalino, podem ser cultivados em vasos com substrato para ericáceas. Iniciam a produção a partir do 4º ano, podendo produzir 600kg/ha. A partir do 8-9º ano a produção pode atingir 6 ton/ha e ao 12-14º ano 8-12 ton/ha!!! Para além das bagas saborosas, as plantas ficam com uma cor espectacular no Outono.


Groselhas (Ribes sp.) – Exigentes em frio, são adequadas ao cultivo no centro e norte do país. Necessitam de podas de formação nos primeiros anos de cultivo, frutificando a partir do 2º ano de plantação até períodos superiores a 15 anos, são uma excelente escolha para quem está a começar. Distinguem-se a groselheira-negra (Ribes nigrum), groselheira-vermelha (Ribes rubrum) e groselheira uva-espim (Ribes uva-crispa).

Groselheira-vermelha (Ribes rubrum)


Groselheira-negra (Ribes nigrum)



Groselheira uva-espim (Ribes uva-crispa)


Cultivos de groselheiras protegidos com redes anti-pássaros


Groselheiras em vasos

Tomate-capuchinho (Physalis peruviana) – Com um enorme e abundante período de produção, é talvez o mais fácil de todos os pequenos frutos, adequando-se mesmo ao cultivo em pequenas varandas ou jardins de menor dimensão. Envolve podas de formação e protecção contra o frio intenso, ao qual é sensível.

Morangueiro (Fragaria sp.) – O mais conhecido dos pequenos frutos cultivados em Portugal. Dentro das inúmeras variedades, podemos distinguir os remontantes (crescem continuamente entre Junho e Outubro) e os não-remontantes (produzem morangos apenas uma vez por ano entre Abril e Junho). Os primeiros devem ser plantados na Primavera e os segundos no final do Verão, preferencialmente em Agosto/Setembro. Apesar da sua parte aérea definhar no Outono, sobrevivem aos meses mais frios do Inverno, para voltarem a florescer mal chegue a Primavera. Convém transplantar e dividir as plantasde tempos a tempos, para manter a sua produtividade regular.

Morangueiros cultivados em mulch de palha

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Raízes na Praça - hortícolas da época

Nesta semana, no espaço destinado às plantas e afins, foi a vez do Pedro e da avó Elvira marcarem presença. E lá esteve ela a dizer que "é preciso andar para a frente". Simples verdades da avó que vem do tempo em que para ser agricultor bastava ter terra para cultivar. Bem mais simples esses tempos.
Com a presença da simpática Cristina Preto, que ensinou como fazer compotas, foram apresentados vários frutos que podem utilizar-se nessa arte culinária.
Curiosas algumas das variedades ainda bastante desconhecidas do público, como o Tomate Preto e o Tomate Zebra e as várias variedades de Maçã, Abóboras, as Cenouras e a Pêra.
De destacar o Tomate Preto que pela sua cor nos indica a presença de substâncias chamadas antocianos, pigmentos presentes em frutas como a uva preta, e que desenvolvem uma acção na captação de radicais livres, que contribui para a prevenção de doenças cancerígenas.
Toda a variedade, de frutos e legumes da Raízes pode ser encontrada aos sábados no Cantinho das Aromáticas, onde marcam presença com uma banca de legumes entre as 10h30-12h30 e 14h30-18h00.
Ou então como sempre, podem receber todas estas deliciosas frutas, e muito mais, confortavelmente em casa.

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Lista de plantas Outubro 2009

Deixo a lista de plantas disponíveis no Cantinho das Aromáticas para Outubro, de forma a que seja mais fácil descarregar para consulta e escolha na nossa loja virtual, em http://loja.cantinhodasaromaticas.pt/loja/.

Da lista fazem parte informações detalhadas sobre as plantas, organizadas numa tabela, tais como:
  • Nome vulgar da planta;
  • Nome científico;
  • Propriedades (Aromática, Medicinal, Condimentar - A,M,C);
  • Comestível (sim ou não);Repelente de pragas (sim ou não);
  • Atrai insectos úteis (sim ou não);
  • Ciclo (Anual, vivaz, perene);
  • Exposição (Sol, meia-sombra, sombra).

Depois de escolhidas e confirmada a sua compra, as plantas são enviadas por transportadora para qualquer ponto do país. Disponível aqui:

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28º Congresso Internacional de Horticultura

Lisboa recebe o evento de maior prestígio internacional na área da horticultura, de 22 a 27 de agosto de 2010. No 28 º Congresso Internacional de Horticultura são esperados mais de 2.000 participantes de cerca de 80 países para discutir o tema da ciência e da Horticultura para as Pessoas.

Colóquios, simpósios, seminários, workshops e sessões temáticas enfoque na componente científica da horticultura, mas também a interação entre os cientistas, produtores, consumidores e sociedade em geral. Para mais informações, clicar em baixo:

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Plantas na culinária - Espinafres & Coentros

Novo tema, desta vez um desafio muito giro, em que faço a ponte com uma receita do chefe que vem a seguir. Esta semana o chefe Ivo trouxe um fondue misto com arroz de espinafres e coentros.
Claro que não pude resistir a desmistificar alguns mitos urbanos sobre os espinafres, que a maior parte das pessoas desconhece, não deixando no entanto de enaltecer esta fantástica planta e as sua propriedades culinárias, bem como as dos coentros. Mas, como em muitas ocasiões, o tempo não chega para dizer tudo. Para os detalhes em pormenor, ver o post abaixo.

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Espinafres & Coentros

Então aqui ficam alguns detalhes curiosos:

1870 - O Dr. E von Wolf, médico e naturalista alemão, publica um estudo em que afirma que os espinafres tem 10 vezes mais ferro do que outros vegetais normalmente consumidos;

1929 - Surge o personagem Popeye o marinheiro, que come latas de espinafre para ficar com grandes músculos e salvar a sua namorada, Olivia (quem não se lembra?). Curiosamente, no programa todos fomos peremptórios em afirmar que ninguém conhecia espinafres em lata, mas um pouco de investigação levou-me a isto:

Nem queria acreditar!!!
1937 - um grupo de cientistas alemães descobre que o espinafre tem apenas 1/10 do nível de ferro anteriormente anunciado. Demorou algum tempo para que a correcção do erro se fosse disseminando, pois a informação teve que viajar através de revistas médicas e atravessar a II Guerra Mundial;
Anos 90 - A investigação sobre nutrição foi-se refinando e fizeram-se novas descobertas sobre esta planta. Poucos dias após a colheita os espinafres começam a perder nutrientes, pelo que devem ser consumidos o mais depressa possível após a compra, aproveitando sempre a água de cozedura para que não se perca nada do seu valor. De facto, após 8 dias no frigorífico a temperatura pouco baixa, os espinafres perdem cerca de metade dos nutrientes.
Os espinafres contêm níveis altos de oxalato (sal do ácido oxálico), o qual se liga ao ferro formando oxalato ferroso, o que significa que não pode ser decomposto nem absorvido pelo metabolismo pois interfere na absorção de minerais, nomeadamente de ferro e cálcio. Assim, este vegetal não deve ser cozinhado juntamente com alimentos ricos em cálcio, mas a sua proteína deve ser complementada com a do arroz ou a de outros cereais.
É difícil para o nosso organismo absorver de forma óptima o ferro não-heme de origem vegetal, por isso o consumo de espinafres deve ser concomitante com alimentos ricos em vitamina C. O ácido oxálico também pode representar um problema para pessoas propensas a pedra nos rins e na bexiga (que se formam dos oxalatos). Sem exagero, costuma dizer‑se que os elementos activos do espinafre são tão numerosos que substituem meia farmácia. De facto, esta saborosa hortaliça de folhas é rica em cálcio, fósforo e enxofre.

Popeye e as suas latas de espinafres, ricos em ferro, são um dos mitos urbanos mais longos (e falsos) da história recente!!!
Mas a história não acaba aqui: na realidade, aquilo que hoje é vendido nos mercados como espinafre (Spinacia oleracea) é um falso pretendente, o espinafre da Nova-Zelândia (Tetragonia tetragonoides).
Espinafre (Spinacia oleracea). Originária da Ásia, pertence à família das quenopodiáceas, anual, de folhas largas, cresce mais de 30 cm em altura, muito difícil de encontrar nos dias de hoje no mercado, como pude constatar, pois tive imensa dificuldade em o adquirir para levar ao programa!!! Por ser anual, é mais difícil de produzir para os agricultores, porque apenas leva 2 a 3 cortes. É também por isso, mais cara.
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Espinafre da Nova-Zelândia (Tetragonia tetragonoides). Originária da Austrália e Nova-Zelândia, pertence à família das aizoáceas, vivaz, cresce de forma prostrada mas muito abundante, tornando-se inclusive invasiva, como tive oportunidade de constatar nos Açores, onde surge mesmo junto ao mar, na rocha vulcânica e até com uma nota de prova bem agradável!!! Foi durante muitos anos a única planta a ser cultivada pelo mundo, com origem nestes países.
Produz em abundância e foi por isso tentador para os agricultores e para o mercado substituirem-na gradualmente pelo verdadeiro espinafre. É um daqueles enganos que ninguém reparou... Tem, na minha opinião uma nota de prova diferente, bem como a sua composição nutricional é distinta do verdadeiro, como não podia deixar de ser...
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Quanto aos coentros (Coriander sativum), existe também alguma informação curiosa sobre esta planta:
O facto de ter sido das poucas que os descobridores ibéricos levaram para o novo mundo, tendo mesmo tranformado a cozinha local, em países como o México e o Perú, já que se tornou um elemento obrigatório em muitos pratos tradicionais.
Também levada pelos portugueses para Oriente, assumiu-se como fundamental numa das especiarias mais conhecidas do planeta, o caril, já que as suas folhas e sementes fazem parte desta complexa mistura de ingredientes.

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