Boas práticas na aquisição de plantas aromáticas, medicinais e condimentares em viveiro
O número de
projetos de produção de plantas aromáticas, medicinais e condimentares (PAM) ao
ar livre, em modo de produção biológico (MPB), para posterior secagem, tem
vindo a aumentar em Portugal. Como consequência a procura de plantas para a
instalação destes cultivos junto dos viveiristas aumentou também, de tal forma
que supera neste momento a capacidade
instalada no país para dar resposta à procura.
Surgem entretanto novos viveiristas, oferecendo plantas a preços muito baixos, como
forma de se tornarem competitivos, mas ainda sem a experiência necessária para
oferecerem plantas e serviços com elevada garantia e qualidade.
Desta forma
torna-se imprescindível ao promotor obter material vegetal de qualidade irrepreensível
para que o seu projeto seja bem-sucedido, já que o mercado é extremamente exigente
no que respeita à correta identificação das espécies cultivadas.
Pureza varietal das plantas a adquirir
A escolha do
material vegetal assenta, na maioria dos casos, no menor preço de mercado,
sendo que a maior parte dos promotores não dedica especial atenção à pureza varietal. Infelizmente é cada
vez mais frequente encontrar novos projetos plantados com espécies erradas ou
híbridos muito heterogéneos obtidos por semente, com pouco ou nenhum valor
comercial.
O custo de uma
planta propagada por semente é normalmente muito inferior ao custo de uma
planta propagada por estacaria ou divisão. Por outro lado, a pureza varietal da
maior parte das plantas propagadas por estacaria/divisão é muito superior.
Nenhum híbrido deverá ser propagado por
sementeira (ex: tomilho-limão/Thymus
x citriodorus; Hortelã-pimenta/Mentha
x piperita), pois a probabilidade de vir a gerar populações em cultivo
muito heterogéneas é enorme, com todos os problemas que isso implica, quer ao
nível da produtividade, quer da qualidade obtida.
É fundamental garantir que estamos a
adquirir as espécies pretendidas e não espécies semelhantes. É vulgar
encontrar plantações de erva-príncipe (Cymbopogon
citratus) uma gramínea tropical difícil de obter por semente, em que na
realidade está plantada uma espécie similar (C. flexuosus; C. nardus; C. winterianus), mas cujas propriedades
são absolutamente distintas das que o mercado pretende.
Também em
cultivos de estragão-francês (Artemisia
dracunculus) é vulgar encontrar estragão-russo (Artemisia dracunculoides), este facilmente obtido por semente, mas
sem cheiro, sem sabor e sem valor comercial,
ao contrário do primeiro, muito aromático, mas só obtido por estacaria, sendo o
seu enraizamento difícil de obter com grandes percentagens de sucesso.
Não são autorizadas em MPB plantas
provenientes de viveiros convencionais, obtidas por micro-propagação (ex:
culturas in-vitro) nem plantas geneticamente modificadas. A utilização deste
tipo de plantas pode pôr em risco todo o projeto.
Considero
fundamental a visita do promotor aos viveiros selecionados aquando da consulta
de preço, quer sejam em Portugal ou num outro país, de forma a poder verificar
com os seus próprios olhos todas as condições de produção.
É crucial
assegurar que, posteriormente à aquisição de plantas, continuará a existir uma
ligação com o viveirista, quer seja no apoio e esclarecimento de todas as
dúvidas que surgirem, quer seja na ajuda ao escoamento da produção.
Muitos dos
novos agricultores já instalados são bombardeados com frequentes dúvidas para
as quais é impossível ter disponibilidade para responder.
Aquando da
seleção do viveiro para a aquisição das suas plantas, garanta que consegue as melhores condições de pós-venda, para que a
relação com o viveirista não termine no momento em que pagou as plantas.
Leia com atenção as condições de venda do
viveirista. Lembre-se que, ao encomendar as suas plantas, está a formalizar um
contrato de compra e venda, regulado pela legislação portuguesa.
De seguida,
enumero um conjunto de procedimentos que considero fundamentais para a correta
aquisição de material vegetal, fundamental na obtenção de colheitas de grande
qualidade.
Seleção dos viveiros a contactar
Tudo começa
com uma prospeção de mercado, na
qual o promotor do projeto de produção de PAM fará uma consulta de
disponibilidade e preço das plantas que pretende adquirir. Tendo em conta a
legislação, a certificação MPB, deverá ter o cuidado de fazer uma rigorosa
seleção, de forma a não cometer erros nesta fase.
Os viveiros a
contactar para a consulta e aquisição de PAM devem cumprir os seguintes
requisitos:
- Ter atividade legalmente constituída para o efeito;
- Ter licença de viveirista/passaporte fitossanitário;
- Estar certificado para o modo de produção biológico, como viveirista;
- Ter outras certificações que atestam a qualidade de produção ou origem do material genético;
- Ter pés-mãe dos quais são provenientes quer sementes, quer partes de plantas usadas na propagação das plantas que comercializa;
- Poder receber visitas do potencial comprador e toda a estrutura produtiva ser observada pelo mesmo.
Deverá o promotor do projeto enviar um mail aos diversos viveiristas que selecionou, com o pedido de orçamento, onde constem as seguintes informações:
- Dados pessoais (ex: nome, morada completa, contactos);
- Nome vulgar e o nome científico das espécies que pretende adquirir (ex: Tomilho-vulgar/Thymus vulgaris);
- Quantidades exatas de plantas das quais pretende cotação, por espécie;
Deverá solicitar ainda as seguintes informações:
- Quais as plantas propagadas por semente e quais as plantas propagadas estacaria/divisão/enxertia.
- Condições comerciais;
- Calendário de produção;
- Prazos estimados de entrega;
- Condições de transporte até às suas instalações.
Calendarização da entrega
A maior parte
das plantas propagadas por estacaria/divisão só podem ser multiplicadas a
partir do momento em que apresentam crescimentos com tamanho suficiente para
serem cortados ou divididos com o objetivo de enraizar. Isto só acontece para a
maioria das espécies, a partir de finais de Março, meados de Abril, de acordo
com as condições climáticas do ano.
O que
significa que a entrega de plantas propagada por estacaria/divisão só pode ser
feita a partir de finais de Maio, meados de Junho e durante todo o Verão, até
Setembro para espécies vivazes (ex: hortelã-pimenta, estragão-francês) ou
Outubro, para espécies perenes (ex: tomilho-limão, limonete).
As plantas
propagadas por sementeira ficam normalmente disponíveis mais cedo, pelo que
convém acordar com o viveirista a entrega destas plantas em primeiro lugar.
Não
se esqueça que, ao formalizar a encomenda está a aceitar e concordar com as
condições de venda do viveirista, como acontece em qualquer outra relação comercial.
Formalização da encomenda
A maior parte
dos viveiros aceita a encomenda de plantas com uma percentagem (%) do valor
total da mesma, como entrada. A encomenda deve ser feita com a maior
antecedência possível, em relação à data prevista para a plantação. A entrega
de plantas é normalmente faseada, de acordo com a disponibilidade das mesmas,
resultante da programação do viveirista e do acordo, entretanto definido com o
promotor do projeto, para a entrega de plantas.
É frequente
haver pedidos de alteração de espécies ou do número de plantas por espécie,
depois da encomenda ser formalizada. O viveirista não é legalmente obrigado a
fazer essa alteração, pelo que o
promotor deverá estar seguro das espécies e da quantidade de plantas que
pretende adquirir no momento da formalização da encomenda.
Num mau ano
agrícola, o viveirista poderá não conseguir cumprir com a entrega da totalidade
das plantas na calendarização pré-estabelecida, o que normalmente surge
salvaguardado nas condições de venda que o promotor aceitou ao formalizar a
encomenda de plantas. Cabe às partes o bom senso de perceber e ultrapassar esta
situação. Cabe relembrar ao promotor do projeto que também ele será agricultor,
exposto às mesmas dificuldades que o viveirista enfrenta na gestão do aleatório,
do clima às pragas e doenças e outras catástrofes naturais.
Receção das plantas
Cabe ao
promotor reunir todas as condições necessárias para receber as plantas nas
datas previstas de entrega. É fundamental assegurar na exploração uma zona com
condições mínimas de rega, luz e proteção contra animais e outros potenciais invasores,
que funcione como local temporário onde as plantas vão permanecer, após a sua
entrega e até serem plantadas.
Qualquer reclamação devidamente
fundamentada deverá ser feita nas 24h posteriores à receção das plantas. Findo
o prazo, as plantas ficam por conta e risco do cliente. O cliente é o único
responsável pela manutenção das plantas a partir do momento em que as recebe.
A
agricultura é para cavalheiros, senhores e senhoras com um estilo de vida
peculiar, que fazem jus à sua palavra. Trabalhe sempre com pessoas de palavra e
mantenha a sua. Faça disso uma questão de honra.
3 comentários:
Parabéns pelo artigo!
Muito obrigada.
A maior dificuldade que tenho quando vou a um viveiro é exatamente a identificação da planta e já aconteceu de perguntar quantas horas de frio necessitava aquela espécie e o proprietário nem saber que isso existia! Muita falta de formação! Sou do alto minho.
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