Cebolas que nos fazem chorar

Em 47 anos de vida já terei comido milhares de cebolas. Desde cruas a trituradas na sopa, grandes e pequenas, de múltiplas variedades e feitios. Já terei descascado, cortado e picado algumas centenas delas.

Umas fazem chorar mais do que outras, por vezes chega a ser insuportável e é preciso fazer uma pausa, lavar as mãos e a cara e começar tudo outra vez.

Com meia dúzia delas, cheguei a usar óculos especiais, sabendo de antemão que ao cortar as suas paredes celulares, libertaria algumas substâncias do seu interior, entre elas enzimas denominadas alinases, que ao entrarem em contacto com os óxidos sulfúricos da cebola, que são os compostos de enxofre responsáveis pelo seu sabor e cheiro característicos, reagem produzindo ácidos sulfínicos, compostos muito instáveis que se convertem rapidamente em gás sin-propanetiol-S-óxido.

Sendo bastante volátil, este gás chega rapidamente aos nossos olhos e sob o seu efeito, produzimos lágrimas.

Mas HOJE umas sacanas de umas cebolas minúsculas, em forma de balão de São João, ultrapassaram todas as escalas ao alcance do meu conhecimento gastronómico.

Aprendi com elas o verdadeiro sentido da expressão “comer e chorar por mais”, já que o molho verde que a minha querida mãe preparou para o jantar de família, nos fez chorar a todos, do princípio ao fim do repasto.

Além disso, deixamos de poder falar uns com os outros, não porque da boca saísse asneira, mas já ninguém aguentava com tamanha dose de óxidos sulfúricos.

Só com uma boa infusão de hortelã é que a vida voltou ao normal…
 
 

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