Agricultura biológica

Tive acesso a uma formação clássica em agricultura, enquanto estudante universitário de engenharia agrícola na UTAD. No início dos anos 90, o ensino da altura era vocacionado para um tipo de agricultura dita convencional. 
 
Ensinava-se a corrigir os solos com fertilizantes inorgânicos e a pulverizar, recorrendo a pesticidas (muitos deles hoje felizmente banidos) práticas perfeitamente normais para o modo de produção agrícola enquadrado na época em Portugal. 
 
A agricultura biológica era encarada como sendo um tipo de agricultura pouco produtiva, cujos praticantes seriam “tipos” de cabelos compridos, que fumavam uma ervas raras e ilegais e praticavam a paz e o amor. 
 
Qualquer estudante ou agrónomo que quisesse saber um pouco mais sobre agricultura biológica, corria o risco de ser apontado!
 
No entanto já sopravam ventos de mudança vindos principalmente dos países nórdicos… 
 
Nesses países mais ricos e desenvolvidos, os respectivos governos e populações estavam muito atentos aos problemas ambientais gerados pela agricultura convencional. 
 
Paralelamente tinham também preocupações relativas à qualidade alimentar, já que levavam muito a sério o dito “somos o que comemos”. 
 
Ora em Portugal o cenário era bastante diferente. 
 
Quando comecei a fazer agricultura biológica, em 2005, não estava obviamente preparado, no plano humano, técnico e espiritual. 
 
Isso só aconteceu 2 anos depois, após uma “desformatação”, de ver para crer, de sentir no trabalho diário que afinal era possível fazer agricultura profissional de uma outra forma, para além daquela que durante tantos anos tinha sido preparado.
 
Hoje os paradigmas da agricultura em Portugal e na Europa estão a mudar rapidamente. Sobretudo porque existe da parte do consumidor uma preocupação legítima em relação à origem daquilo que come, como foi produzido, quantos quilómetros fez até chegar a sua casa, qual o custo ambiental e cada vez mais, se o agricultor tem uma vida digna, baseada no valor justo que deve receber por aquilo que tão duramente produziu. 
 
Por outro lado, é cada vez maior a consciência de que hoje votámos, temos o poder de decidir, quando compramos. Penso que os consumidores só agora começam a perceber a dimensão desse poder. Eleger o que queremos consumir de alimentos, necessariamente condiciona a forma como eles são produzidos. 
 
Quando decidimos comprar produtos de agricultura biológica, não estamos na realidade a comprar apenas produtos que foram produzidos sem pesticidas e adubos de síntese, estamos a comprar alimentos saudáveis, que foram produzidos recorrendo a uma série de técnicas e práticas que permitem garantir a perpetuação dos ecossistemas naturais e agrícolas. 
 
Estamos a promover relações sociais justas e qualidade de vida a todos os que nela estejam envolvidos.  
Estamos a afirmar que não queremos organismos geneticamente modificados nos nossos alimentos e nos campos de cultivo do nosso país, estamos a pagar a alguém que mantém a paisagem e trabalha arduamente para melhorar os solos, estamos a contribuir para a soberania e a segurança nacional, já que só excepcionalmente algum país será capaz de viver sem solos com apetência para a agricultura. 
 
O consumidor hoje reconhece que o modo de produção biológico é holístico porque ele próprio vê o mundo de uma forma mais abrangente.
 
Apesar da agricultura biológica utilizar técnicas ancestrais de agricultura, estou perfeitamente convicto de que este modo de produção é sinónimo de “evolução humana positiva”, já que esse mesmo conhecimento ancestral se alia à ciência e tecnologia da actualidade. 
 
Desenganem-se aqueles que acham que biológico e “abandonológico” são sinónimos!
 
São várias as técnicas inerentes ao modo de produção biológico. São exemplos de algumas as seguintes:
 
  • Rotações de culturas; 
  • Reaproveitamento e incorporação de resíduos das culturas, adubações verdes (ou siderações), aplicação de estrumes de animais e resíduos orgânicos da exploração agrícola; 
  • Fomento da biodiversidade cultural e construção de corredores ecológicos recorrendo também à edificação de sebes vivas; 
  • Luta biológica contra pragas e doenças (induzida pela introdução de espécies de plantas que atraem os insectos auxiliares ou através de largadas dos mesmos); 
  • Prevenção e remoção de infestantes recorrendo a coberturas de solo recicláveis ou biodegradáveis; 
  • Implementação de rega localizada para poupança de água; 
  • Aplicação de medidas de luta cultural indirectas (através da selecção das espécies e/ou variedades) e directas (como por exemplo o recurso a plantas-armadilha); 
  • Solarização do solo.
 
Todas estas práticas visam, além de nutrir as plantas, manter a produtividade do solo, controlar insectos, ervas infestantes e outros inimigos das culturas. 
 
As ervas aromáticas são plantas com necessidades nutritivas muito especificas, normalmente baixas ou médias. A sua qualidade final depende de uma teia de relações complexa que estabelecem com o meio no qual são cultivadas. 
 
Produzidas em modo de produção biológico são altamente valorizadas, tenho a certeza que dará conta deste facto assim que começar a experimentar! 
 
A produzir as suas ou a consumir conscientemente.
 

 

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