Das ilhas para os nossos jardins

A Cedronella canariensis, conhecida como hortelã-de-cabra, é um endemismo macaronésico, presente na Madeira, ocorrendo também como planta introduzida nos Açores onde surge nas ilhas Terceira, Santa Maria, São Miguel e Faial. São territórios fabulosos, cheios de plantas distintas, de alternativas muito interessantes para utilizar nos jardins de hoje, como o raríssimo Dragoeiro (Dracaena draco) ou o vulnerável Azevinho (Ilex perado). Pena que nos esqueçamos com frequência que estes territórios também são Portugal, com uma riquíssima selecção genética de espécies que interessa defender. Deixo aqui a minha homenagem à enorme vontade e esforço que por ali encontrei na defesa de tão valioso património, nalguns dos últimos locais paradisíacos desta nação.
Dada a especificidade da sua distribuição geográfica, não é uma planta comum, não sendo por isso muito conhecida e de forma alguma utilizada em jardinagem ou retirando partido económico das suas propriedades medicinais. Orgulho-me de a ter incluída na minha colecção pessoal e de a estar a introduzir no mercado de plantas ornamentais, onde penso que nunca ocorreu. Mais uma planta endémica que está disponível para que qualquer pessoa a possa cultivar, tendo em conta que é muito pouco exigente em água e nutrientes, tornando-a num recurso valioso para fazer face às alterações climatéricas e à necessária sensatez que urge ter na gestão e utilização dos recursos hídricos nos nossos jardins.
É um belíssimo arbusto perene que pode atingir 1.5m de altura e um diâmetro de cerca de 1m, embora nalgumas regiões mais frias possa assumir um comportamento vivaz. Tem lindas folhas trifoliadas e inflorescências terminais de flores rosa-pálido, que produzem um som interessante nos dias mais ventosos. Preferem solos arenosos, soltos e bem drenados, com pH próximo do neutro e uma posição bem soalheira.
As folhas são incrivelmente aromáticas, sendo o aroma tão complexo que é muito difícil de definir, mas facilmente se encontram notas de cedro, cânfora, bálsamo, podendo ser colhidas antes da planta entrar em floração e utilizadas em ramos de cheiros e até em infusões usadas tradicionalmente para prevenir constipações e problemas respiratórios. Não é ainda uma planta muito estudada, apesar de ter encontrado alguns trabalhos científicos relativos à composição dos seus óleos essenciais, nenhum português.
Muito sensível ao frio, quando a temperatura baixa para negativo, pode mesmo morrer, deverá nestas ocasiões ser recolhida para um local protegido, cultivada em vaso ou protegida com manta térmica.
Floresce em Junho, sendo as flores muito abundantes e extremamente atraentes para todos os insectos polinizadores, pelos tesouros que têm para oferecer.
As suas sementes podem ser colhidas e secas em Agosto/Setembro, tendo uma elevada e inacreditável faculdade germinativa, que não é comum nas plantas endémicas, o que contribui para que sejam raras, além de outros factores. Podem ser semeadas na Primavera, demorando cerca de duas semanas a germinar. A propagação também se faz muito facilmente por estacaria, durante toda a Primavera/Verão.
Se for feliz no nosso jardim, cresce ‘musculadamente’, pelo que deve ser podada com frequência de forma a estimular novas rebentações da base, prevenindo o envelhecimento precoce da planta, mantendo-a com uma forma e tamanho mais ou menos constante.
Não detectei ainda qualquer problema com pragas ou doenças nesta planta, facto que se deve ao forte e intenso aroma que liberta, o que, como em muitos outros casos, torna esta planta um óptimo repelente de pragas.

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