Estórias das ervas e das pessoas...
Nasci
e cresci no Porto, cidade que amo profundamente, no seio de uma
família grande, sem ligações à agricultura. O Aniki Bóbó do
Oliveira fez-me sonhar com a miúda bonita e o Sousa Veloso
mostrou-me a Vida Rural. Ficava durante longos períodos pendurado na
montra da Sementeira do Alípio Dias, fascinado com as últimas
novidades em bolbos e afins.
Viajava
regularmente para a aldeia da minha avó materna, nas férias
escolares. Apesar de ser costureira mantinha, como todos na aldeia,
uma horta onde havia um pouco de tudo. Foi lá, sob o seu olhar
atento, que construi a minha primeira horta, ainda miúdo.
Aos
14 anos não sabia o que queria fazer a seguir... Estranhamente
cultivava vasos de hortícolas em casa, cuidava de pássaros caídos
do ninho, trazia cães para casa, enfim, um caso de preocupação
parental! Fui mandado analisar no psicólogo do banco onde o meu pai
trabalhava. O senhor era um tipo simpático, de lentes grossas e
acabou por revelar-se decisivo na escolha do caminho que hoje sigo.
Disse: “Um tipo como tu deve ir para uma escola especial, uma
escola agrícola. Há uma em Santo Tirso”.
Fui,
vi e apaixonei-me. Foi tão bom, aprendi tanto, fiz os melhores
amigos e cresci como não podia ter crescido em casa. Daí parti para
Vila Real onde ingressei na Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro.
Nela
fui aluno de vários cursos, já que estudei de perto o mundo rural,
participei em inúmeras tertúlias, fiz diversas viagens e senti nos
ossos as quatro estações do ano. Em suma, todas estas aprendizagens
de vida contribuíram para que me embrenhasse definitivamente na
agricultura.
As
plantas aromáticas perseguiram-me sempre, quis estudá-las melhor e
acabei por vir parar ao lado de casa, aos Jardins de Serralves. Fui
pago durante 6 vibrantes anos para gerir 18 hectares de uma das mais
fantásticas colecções botânicas do país. Aí tornei-me numa
espécie de Jean-Baptist
de la Quintine - O Jardineiro do Rei.
Construí um jardim com uma enorme colecção de plantas aromáticas
e plantei centenas de árvores.
De
jardineiro do rei quis a vida que me fizesse agricultor. Assim
naveguei rio abaixo para me vir a instalar nos aposentos de Pedro e
Inês de Castro, na Quinta do Paço em Canidelo, Vila Nova de Gaia.
Há 12 anos que das ervas faço pão na mesa e acredito convictamente
que existem ainda tantas conquistas por fazer...
Das
aromáticas se fizeram milhares de cantinhos espalhados pelo país
afora, e centenas de novos rurais perseguem o perfume cujo rastilho
foi por mim ateado. E a vida continua, de pés assentes na terra e a
consciência de que o futuro será verde ou morrer a tentar.
Entretanto
tenho uma princesa de 10 anos. Para me fazer homem, faltava este
livro, dizem... Espero que gostem.
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