Do Cantinho e das perpétuas, a experiência da intimidade!



Texto da autoria de Maria João Coelho

“Andava já há algumas semanas para ir ao Cantinho comprar uns vasos de aromáticas para colocar no quintal, quando numa espreitadela rápida pelo site de modo a ver novamente a direcção  (sim, que nas duas vezes em que já lá tinha ido andei  perdida!!!) li que esta quinta-feira haveria colheita de perpétuas. Ena, não iria perder esta oportunidade.” (…) 

Era desta forma que em Setembro de 2016 começava o meu texto intitulado “Apanhar perpétuas roxas no Cantinho das Aromáticas” no meu blog (http://mcoelhodivagar.blogspot.pt/2016/09/apanhar-perpetuas-roxas-no-cantinho-das.html). O Texto e a minha experiência como voluntária nesta maravilhosa quinta! 

Regressada da minha condição de expatriada em Angola e depois de um Verão a recuperar energias e emoções, o Outono trazia-me tempo de sobra para me (re)organizar. Mal sabia que nessa quinta-feira não era só a minha condição de cliente para voluntária que iria mudar! 

A minha relação com O Cantinho das Aromáticas era até esse dia tão incipiente quanto pode ser uma relação de uma vulgar compradora/cliente que aprecia infusões e gosta de ter devaneios de agricultora e ilusões cívicas de redução da pegada humana nuns quantos metros quadrados a que ouso chamar “mini-horta”. Coisas de filósofa!!!

Nessa tarde fiz a minha primeira colheita de perpétuas roxas, que passe o pleonasmo se perpetuou até meados de Novembro. Não faltei uma única quinta-feira! Timidamente fui-lhe ganhando o gosto. 

E cada semana parecia que as perpétuas se renovavam e me possibilitavam a mesma experiência de renovação, regeneração. As perpétuas, a equipa do Cantinho e um grupo de voluntários aromáticos no qual ganhei nome e lugar precisamente no final dessa colheita! Foram muitas conquistas para tão pouco tempo! 

Uma manhã por semana e todo um novo mundo se abria! O Cantinho das aromáticas, enquanto quinta, só por si transporta-nos a um mundo mágico, tal a sua beleza e aromáticos perfumes, que parecem transformar-nos em personagens de um belo filme bucólico, daqueles antigos em que tudo parece genuinamente perfeito! 

Não bastasse o facto de ser a única quinta urbana certificada como produção inteiramente biológica para fazer emergir em mim um profundo respeito e admiração pelo projeto, tinha ainda de ser uma quinta vaidosa tal a plenitude da sua beleza! 

Mas, como poderia um projeto ser bom sem ser belo?! Razão tinham os gregos, a ética e a estética entrecruzam-se, sem dúvida! Mas, a quinta como qualquer lugar é feita de pessoas! As que a sonharam e lhe deram vida, as que mesmo sem a conhecerem a alimentam com a aquisição dos seus produtos e entre estas duas tipologias emerge uma terceira, aquele pequeno grande punhado de pessoas que como eu dão um pouco do seu tempo semanal e fazem parte da sua história nas mais simples tarefas e se intitulam voluntários! 

Três vértices de um mesmo triângulo, tal como se de um triângulo amoroso se tratasse, no qual tudo gira em volta das plantas, numa espiral cuja mola centrifugadora da união e das dinâmicas são as perpétuas! 

As perpétuas que unem as pessoas e lhes permitem darem-se em comunhão! Uma história cujo “happy end” se abre à imaginação e capacidade de partilha de cada um!  

 Pela minha parte sinto que tenho ganho em cada semana muito mais do que tenho dado. Enraíza-se em mim uma teia de relações que tem moldado a minha condição humana e me faz ser uma pessoa melhor e mais tranquila, com a certeza de que a vida tem um sabor doce e um aroma perfumado, tal como este cantinho, que agora já faz parte de mim… 


Foto tirada a 22 de Setembro de 2016, primeiro dia de voluntariado no Cantinho das Aromáticas


Foto tirada a 21 de Setembro de 2017, um ano de voluntariado!

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