Vila Nova de Gaia

Vila Nova de Gaia é um dos maiores municípios do país. Guarda em si milhares de prazeres que nem sempre quem por aqui vive ou passa consegue facilmente perceber.
 
Falarei de alguns dos que se encontram à minha volta, por serem aqueles que conheço melhor. Volto a eles com uma grande regularidade, porque gosto pouco de ir ao médico.
 
Um dos mais invulgares prazeres da cidade encontra-se na estrada do Cais do Lugan, quando passamos por baixo do arco da ponte da Arrábida, junto à encosta íngreme povoada de eucaliptos.
 
Em certos dias, quando se conjugam as condições ideais de temperatura, vento e exposição solar, a sensação é arrepiante.
 
A quebra súbita da temperatura, a humidade elevada, a sombra da ponte, o aroma a terra molhada e a eucalipto, tudo conjugado, proporcionam a quem passa uma experiência física e sensorial complexa e extraordinária.
 
Mais ainda, se nos deslocarmos rapidamente, de bicicleta ou mota.
 
No coração da Afurada, vivem-se prazeres únicos à mesa, num dos muitos restaurantes que por ali se encontram. Não se trata apenas de mais uma experiência gastronómica.
 
É acima de tudo, uma profunda experiência sociológica. Mais intensa, se almoçarmos cá fora, que é quase sempre próximo das casas e de quem ali vive, que com frequência, almoça ao nosso lado.
 
Não há muitos lugares assim, onde se come e interage com as famílias dos pescadores, que horas antes trouxeram do mar o peixe que ali comungamos.
 
Se estivermos atentos, cada frase, cada chamamento, é música para os nossos ouvidos.
 
Não há aroma a maresia em toda a costa atlântica portuguesa como o que se sente quando se passa na praia de Lavadores.
 
Na minha conceção de paraíso, todos os por-do-sol se fazem acompanhar desta sublime maresia, que goza das virtudes terapêuticas das águas ricas em iodo.
 
Há quem pague por sessões de talassoterapia. Aqui são de graça. A passear pela marginal ou sentados numa das gigantescas rochas, património geológico que vale a pena descobrir na companhia de quem o conhece bem, durante a maré vaza.
 
Não há outro igual. O jardim produtivo do Cantinho das Aromáticas encontra-se no interior de uma Quinta medieval, rodeada de muros de granito e prédios urbanos, por todos os lados.
 
Vista do céu, parece uma ilha verde. Vista de perto, percebe-se que é uma ilha de biodiversidade, no meio da cidade.
 
Mas só quando passeamos demoradamente pelos campos de cultivo das várias espécies de plantas aromáticas é que sentimos o espanto de um lugar que põe todos os nossos sentidos à prova.
 
Quando encontramos as perpétuas em flor, o tempo pára. Se nos deixarmos ficar, ainda que por momentos, conseguimos viajar no tempo.
 
A cidade é grande, povoada de muita gente, mas ainda é possível encontrar Gaia. A grande e poderosa Gaia, personificação do planeta Terra, cheia de lugares e recantos onde a sua Hipótese faz todo o sentido.
 
Do Cais da Afurada ao Cantinho das Aromáticas, esta é a minha proposta para um dos percursos mais incríveis que a cidade tem para oferecer.
 

 

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