Medronheiro

Cresci vendo na televisão imagens incríveis de animais de todos os tamanhos e feitos, nas savanas da África oriental, procurando frutos de marula (Sclerocarya birrea), sob a copa das árvores.

Era absolutamente fascinante observar o comportamento de elefantes, girafas, avestruzes e babuínos, embriagados, após ingerirem os frutos fermentados. Qualquer fruta que fermente, produz uma certa quantidade de álcool, a espécie humana levou este processo ao estado da arte.

O equivalente na flora de Portugal era o medronheiro (Arbutus unedo). Jovens estudantes de Engenharia Agrícola, percorríamos demoradamente o maravilhoso campus da UTAD em busca dos frutos mais maduros. Apanhar medronhos no início de Novembro era um hábito instituído.

Nem todos os anos tínhamos sorte, porque a produção de frutos no medronheiro é bastante irregular. Depende da incidência de geadas e de anos de safra e contra-safra (grande produção de fruto e baixa produção de fruto, em anos sucessivos).

São deliciosos, mas apenas se consumidos muito maduros, quase sorvados. Mas esta não era a única razão que nos compelia na sua busca. Era o mito que nos guiava pela mata, o mito que alegava a sua ancestral capacidade de provocar embriaguez a quem consome muitos. Nunca comprovado.

Não duvido que em crianças, com menor densidade corporal que um adulto, e uma percepção de sabores menos desenvolvida, haja uma pequena probabilidade de consumirem frutos fermentados, caídos no chão, por impossibilidade de alcançar na copa os frutos maduros.

Talvez por isso muitas das descrições de embriaguez sejam nesta fase de vida! Com adultos essa possibilidade é muito remota... Comer medronhos maduros, não fermentados, não embebeda. Já beber a sua aguardente, sim, e de que maneira!

É de importância ancestral para os povos da Península Ibérica. Faz parte da simbologia da cidade de Madrid, onde também é possível encontrar a estátua de um(a) urso(a) a comer os seus frutos, em plena Porta do Sol.

Os ingleses chamam-lhe strawberry tree (árvore dos morangos). As folhas do medronheiro têm propriedades diuréticas, anti-sépticas das vias urinárias, sendo aplicadas para aliviar a diarreia, doenças a nível renal e arteriosclerose. O mel tem características muito especiais.

Para um observador menos atento, os seus frutos podem ser confundidos com líchias (Litchi chinensis), um fruto tropical nativo de algumas regiões na Ásia.
 



 

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