E o pobre não desconfia?!

Faço, como a maior parte dos portugueses, compras de bens essenciais em grandes superfícies. Reconheço que a sua implementação, até certo ponto foi e é importante para a economia nacional. Promoções e outras atitudes comerciais do género tem normalmente uma enorme aceitação por parte dos consumidores, em todo o mundo, às quais não sou alheio.

Mas estas estruturas empresariais tem um comportamento verdadeiramente predatório em relação às actividades económicas das quais dependem e à concorrência de uma forma geral. Muitas vezes superam-se e chegam a canibalizar-se.

No caso específico da agricultura, é assustador o poder nefasto que estes monstros podem exercer. Com margens de 80% em muitos produtos agrícolas, o que resta para quem verte o suor no dia a dia da árdua actividade?! 20% ou menos?! E qual o espaço para os produtos produzidos em território nacional? Quem consegue competir, no sector primário, com a desleal concorrência das marcas brancas?!

Nesta ditadura comercial que tem vindo a ser imposta pelas grandes superfícies, com uma tão óbvia manipulação dos consumidores, na forma de promoções encapuçadas, feitas à custa do esforço de outros, o resultado, como sempre, é a destruição de muitos lares. O consumidor menos atento, apenas vê imagens de pobrezinhos, desgraçadinhos e carneirinhos a comprar com 50% de desconto.

Faltam-lhe aquelas imagens onde a vista já não alcança: a de centenas de famílias e empresas à custa das quais estas promoções são feitas, que assistem numa impotência perplexa e aparentemente muda a este tipo de iniciativas.

Custa-me sobretudo enfrentar pessoas que considero inteligentes, que reagem de forma positiva a este género de fenómenos. Bem sei que o imediatismo é a sensação do momento, é imediato, é porque conta, é porque é verdade. Mas não é assim. É manipulado, é pernicioso, por cada cara feliz nos noticiários, há uma outra a derramar lágrimas, no solo ou no mar que é nosso.

Adoro o meu país, adoro o meu povo, mas detesto esta sua propensão para a manipulação fácil. E, como convém, quem lidera, nem sequer sabia que estava a acontecer... pois, não vá o diabo tecê-las...

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2 comentários:

Graça Noronha disse...

Espero que depois de toda a tinta que correu com as promoções de 50%, os consumidores se tenham apercebido pela primeira vez, que quem paga as promoções das grandes superfícies, concorde ou não concorde, é o produtor, o que trabalha e produz e corre sempre todos os riscos e que no fim tem de aceitar as condições que lhe impõem.

Ana Martins disse...

Também me coloquei essa pergunta. Parece-me além do mais que criminoso não é que tenha havido dumpping em alguns produtos (porque na maioria não). Criminoso é o lucro que arrecadam todos os dias em praticamente todos os produtos, às custas dos produtores, à custa dos trabalhadores dessas supercícies comerciais. Todos os dias nos roubam, nos dias normais nos preços e nos salários que pagam, no primeiro de Maio roubam-nos menos nos preços e nos salários e um bom bocado mais na dignidade. Eu cá desconfio!