Lesados da pasta do papel...
Vivemos num mundo em que as notícias são cada vez mais "manipuladas",
de acordo com os melhores interesses do grande poder económico,
interessado em manter o status quo, contra todos os indicadores que o
Planeta Terra emite todos os dias, que mostram claramente que urge uma
mudança de paradigma, envolvendo necessariamente que muitas indústrias
rapidamente desapareçam ou evoluam para modelos de exploração
radicalmente distintos dos actuais.
Estes interesses económicos,
esgrimindo sempre a sua importância no momento actual para o PIB e
outras fórmulas de cálculo e medição do bem estar de todos NÓS e de tudo
aquilo que nos rodeia (todas a necessitar urgentemente de se
actualizarem, fazendo refletir de forma honesta a realidade trágica que
atravessamos), criam ilusões no público que as consome, também esse
tragicamente engordado por "refeições" constantes de informação,
perdendo diariamente a capacidade cognitiva para questionar, refutar ou
assumir prioridades fundamentais para assegurar o futuro.
A
indústria do eucalipto, uma espécie exótica introduzida em Portugal na
segunda metade do século XIX, vinda da Austrália, é actualmente muito
importante para o PIB português, criando postos de trabalho à custa da
exploração de um dos recursos mais frágeis que temos no nosso país, que
são os solos.
A sua distribuição pelo território assumiu tal
proporção, que é já a maior monocultura contínua desta espécie na
Europa. Isto é o mesmo que ter uma gigantesca operação "mineira" montada
em todo o território, na qual as empresas de pasta de papel utilizam a
tecnologia sofisticada do eucalipto para extrair do solo os
minerais e água, como tão bem ele sabe fazer, para rapidamente converter
em dinheiro, numa das operações industriais mais poluentes que ocorre
no nosso país.
Tudo isto se faz à custa de irreversíveis perdas
de biodiversidade, desaparecimento dos padrões da paisagem tradicional,
grave erosão do solo, conduzindo à sua desertificação a longo prazo, e
aos inevitáveis incêndios, para os quais contribui de forma alarmante.
Mas a Natureza não perdoa este tipo de comportamento viral, tendendo
sempre a repor os equilíbrios. E é precisamente neste ponto que esta notícia peca, por não informar correctamente o público...
Os senhores da pasta do papel vão agora plantar eucalipto em Moçambique
não porque Portugal é hostil ao seu cultivo, aliás, isso nunca até agora
os impediu.
Vão fazê-lo porque cá já não restam muito mais recursos
para poderem ser explorados por esta desastrosa indústria, mas vão
embora sobretudo porque, a qualquer momento, as diversas pragas e
doenças que hoje afectam o eucalipto (sobretudo o gorgulho) podem
assumir um carácter de calamidade, como já acontece com o nemátodo do
pinheiro, sendo que não existe nenhuma solução economicamente viável
para conter esta calamidade. São já milhares de hectares atacados,
sobretudo no Norte e Centro do país.
Vão-se embora porque
finalmente muitos de nós clamamos por solos de qualidade para fazer
Agricultura sustentável, para o país e para o Planeta.
Nunca uma
monocultura se conseguirá impor por muito tempo e qualquer agrónomo ou
engenheiro florestal competentes conhecem esta realidade.
Vão
agora estimular a sua produção onde a pobreza das populações e a ausência de formas de
viver com dignidade a partir dos seus próprios recursos dão lugar a
estas realidades, onde a história se parece repetir, de forma trágica.
Resta saber o que será do território quando o eucalipto desaparecer da
paisagem, que estratégias serão implementadas para conter a erosão e
quem pagará os elevadíssimos custos de recuperação dos solos...
E
quantos postos de trabalho, hoje tão importantes para a fórmula do PIB,
restarão... Seremos todos lesados da pasta do papel...
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