Xerojardinagem e Xerojardim

Hoje, o planeta está a enfrentar um grave problema de abastecimento de água em várias zonas urbanas. O crescimento da população coloca uma pressão cada vez maior sobre os recursos hídricos disponíveis. A procura crescente de água resulta em escassez e restrições sobre a sua utilização em jardins. Períodos de chuvas limitados tornam o problema pior. Recentemente, nalgumas áreas densamente povoadas, problemas de abastecimento de água têm ocorrido até mesmo durante os períodos normais de precipitação.

A xerojardinagem desenvolveu-se nos Estados Unidos (Xeriscape) em princípios dos anos 80. Após as graves secas que sofreram nos anos 70 no Oeste dos Estados Unidos, sobretudo na Califórnia e Colorado, houve a necessidade de construir jardins de baixo consumo de água. Novos princípios de desenho e concepção do jardim, aquilo que hoje conhecemos por xerojardinagem. Em Espanha teve uma grande difusão na década de 90, influenciado por outra forte seca que afectou grande parte da Península durante esse tempo.

Em 1986 criou-se nos EUA o National Xeriscape Council, organização não lucrativa, que estabeleceu a marca comercial Xeriscape TM. Com o tempo, o conceito de Xeriscape estendeu-se a todo o país, inclusive aos estados com elevada pluviosidade, como a Geórgia. Os problemas começaram a fazer-se sentir durante a década de 80, quando a imigração nos EUA atingiu o seu pico. Muitos destes imigrantes instalaram-se na Georgia, Florida, a maioria em zonas urbanas. As necessidades de água per capita quadruplicaram nos últimos 25 anos. A maior parte é consumida durante os meses de Verão, principalmente na rega de relvados e jardins privados.

Em Março 1993 deixou de existir o NXC. No entanto, os objectivos iniciais da sociedade foram integralmente cumpridos: a xerojardinagem evoluiu de tal forma que a sua prática e filosofia são hoje largamente utilizadas nos EUA. O serviço de extensão agrária da Universidade do Texas, é actualmente responsável pela xerojardinagem. A designação "xeriscape" é já de domínio público.

A aplicação das técnicas de xerojardinagem estendeu-se a mais de 40 estados e prevê-se que passe a ser norma pública. Existem mais de 100 programas educativos baseados na xerojardinagem e os serviços municipais de jardinagem e de extensão agrária adoptaram os seus princípios.

A ideia principal neste tipo de jardins é fazer uso racional da água de rega, evitando a todo o momento o desperdício, sobretudo em climas mediterrânicos ou subdesérticos. O baixo fornecimento de água não é o único objectivo. Também tem um sentido ecológico e defende a baixa manutenção, por exemplo, tentar limitar a utilização constante de produtos fitossanitários, o menor uso de maquinaria com gasto de combustível, a compostagem, etc. Está demonstrado que um jardim desenhado e mantido com critérios de uso eficiente da água pode consumir apenas uma quarta parte da água de rega que se gasta num jardim convencional. Se existem problemas de escassez de água, se é de má qualidade ou simplesmente se pretende um jardim com baixas necessidades de rega, devem ser tidos em conta diversos aspectos:

Um xerojardim não é um lugar cheio de cactos ou de aspecto seco, sem relvado, dominado por cores escuras. Qualquer tipo de planta, plantada no local correcto, seguindo um esquema de manutenção correcto, pode ser utilizada. A xerojardinagem baseia-se no uso eficiente da água. A maioria das espécies autóctones é, de forma natural, eficientes. Aprender sobre a paisagem natural que nos rodeia é a chave;

A maioria dos nossos jardins históricos, admirados pela sua beleza, tem um pouco de xerojardins: uma grande quantidade de árvores e arbustos, área pequena de relvado utilizando de forma geral, espécies pouco exigentes em água. Pelo contrário, os "novos" jardins, com amplas superfícies de relvado e poucas árvores e arbustos, tem consumos de água muito mais elevados.

O National Xeriscape Council estabeleceu 7 princípios fundamentais da xerojardinagem:
  1. Planificação e desenho adequados;
  2. Análises do solo;
  3. Selecção adequada de plantas;
  4. Zonas de relvado práticas;
  5. Sistemas eficientes de rega;
  6. Uso de mulching ou coberturas de solo;
  7. Manutenção adequada.

Cada uma destas etapas é uma boa prática jardinagem. Porém, se forem implementadas em conjunto, o uso da água será mais eficiente. A redução no consumo pode ser drástica, sem sacrificar a qualidade e beleza do espaço. Qualquer jardim, estabelecido ou recém-instalado, pode ser mais eficiente através da aplicação de um ou mais dos 7 passos. Não é necessário redesenhar totalmente o espaço para economizar água. Poupanças significativas podem fazer-se simplesmente alterando o sistema de rega, utilizando métodos mais eficientes e aprender sobre as diferentes necessidades de água das suas plantas. Muitas vezes basta redesenhar ligeiramente o jardim para o converter.

Infelizmente na jardinagem actual a introdução de espécies exóticas é considerada por vezes sinal de status social. Talvez com esta nova mentalidade, mais futurista, possamos mudar mentalidades, a começar pela do nosso vizinho!!!

Ainda que pareça um paradoxo, um xerojardim pode ser um local mais rico em vida, com menor dispêndio de água. Deve ter-se em conta que um xerojardim deve conter uma elevada diversidade de plantas e ambientes (copas de árvores, arbustos, rochas, plantas aromáticas, plantas tapizantes, coberturas inorgânicas, extremamente atraentes para a vida selvagem. Além disso, normalmente as espécies autóctones proporcionam alimento e refúgio a um maior número de espécies, entre elas aves e insectos úteis.





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2 comentários:

Lucia disse...

Que otima postagem, tudo que precisamos em muitos lugares do planeta para preservar a biodiversidade, poupar recursos e alem disto ter jardins bonitos e vivos a custo mais baixo!
Vou linkar o blog!

Norberto Silva disse...

Muito boa publicação. Também assisti hoje à conferência dada pelo Luís Alves no seminário 'Biodiversidade qual o seu valor' e deixou-me cheio de ideias e vontade de fazer algo semelhante. Gostaria de saber onde posso aprender mais sobre este assunto! (espécies em concreto, etc.) Obrigado. Cumprimentos.