Ilha do Pico - Património da humanidade

Tive o privilégio de passar uma semana, embora em trabalho, nesta fantástica ilha que é o Pico, com a sua paisagem negra e agreste. Esta é a segunda maior ilha dos Açores, a mais recente em termos geológicos, contando apenas com uma população de cerca de 14.000 habitantes. Curiosamente é onde se encontra a mais alta montanha de Portugal e a terceira maior a emergir do atlântico, com 2351 metros de altitude. Faz parte do chamado “triângulo”, juntamente com o Faial e São Jorge, entre as quais as ligações por barco, graças à proximidade, são mais frequentes. O verdadeiro paraíso… Em Portugal! Recentemente, a National Geographic Traveler elegeu as ilhas dos Açores como um dos melhores destinos turísticos do mundo. A paisagem das Vinhas do Pico obteve em 2004 a classificação de Património Mundial da UNESCO, como reconhecimento do seu carácter único. Vinhas cultivadas em chão de lava, envoltas por muros de pedra solta - chamados currais -, que protegem do vento marítimo, mas deixam entrar o sol necessário à maturação. Alguns dizem que se estes muros fossem todos alinhados, dariam duas voltas ao planeta pela linha do equador!!! A diversidade da fauna e flora aqui presente está associada a uma abundância de espécies e comunidades endémicas, muito raras e com estatuto de protecção. A história da vinha e do vinho do Pico leva-nos a recuar ao século XV (1460), data em que se iniciou o povoamento da ilha. Terá sido Frei Pedro Gigante, pároco da primeira comunidade da ilha, a plantar as primeiras videiras. No entanto, foi a comunidade vinda do Faial, proprietária da maior parte das vinhas, que iniciou o ciclo do vinho no Pico. O lugar é seco, com boa exposição solar, que aquece o manto de lava, sendo o calor libertado durante a noite, criando as condições óptimas para o amadurecimento das uvas, gerando vinhos de grande qualidade. Esta comunidade prosperou, exportando para várias partes do mundo, incluindo a Rússia, onde os Czars eram grandes apreciadores do requintado néctar!!! Fruto desta prosperidade, construíram-se inúmeros solares junto à costa, com os respectivos armazéns e lagares. Muitos destes solares encontram-se hoje em ruínas, restando apenas alguns armazéns e adegas, entretanto convertidos em casas de veraneio. No século XIX surgiram grandes vagas de oídio, a produção de vinho caiu drasticamente, as casa ricas do Faial que tinham como principal fonte de rendimento a produção de vinho, viram-se obrigadas a largar as vinhas, vendendo-as ao desbarato. Como o povo tinha que sobreviver, as antigas vinhas deram lugar a pequenas hortas e serrados, onde se passou a cultivar milho, batatas, inhames, etc. Neste processo, os homens foram amontoando as pedras de forma organizada, construindo enormes “maroiços” (montes de pedra), hoje parte integrante da paisagem e património protegido. Novas castas como Arinto, Boal, Fernão Pires ou Terrantez começam a ser cultivadas, ficando o verdelho reduzido às zonas mais privilegiadas para a produção deste tipo de uva. Surge a Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico na década de cinquenta, trazendo o renascer do culto do vinho. Neste momento todo o original património vinhateiro enfrenta alguns problemas graves, tais como a manutenção da forma original das vinhas, extremamente trabalhosa, a pouca mão-de-obra existente e o seu elevado custo, tornando este tipo de produção praticamente inviável. A ausência de jovens e de novos projectos agrícolas inovadores poderá tornar-se um obstáculo a curto prazo. Quanto aos vinhos, alguns deles recentemente premiados, provei vários e alguns deles passarão a fazer parte da minha modesta garrafeira. Vá para fora cá dentro…

Pico à noite

Lagoa com vista para São Jorge


Vinhas património da humanidade

Vista lindíssima de São Jorge

Vigia da baleia

Binóculos da vigia, que fazem lembrar nesta perspectiva a cabeça do Wall E...

Cabeço do camelo


Trovisco macho (Euphorbia stygiana)

Uva da serra (Vaccinium cylindraceum)

Urze (Erica azorica)

Azevinho (Ilex perado subsp. azorica)

Piscina nas rochas vulcânicas

Araucária, presença constante, sobretudo junto a capelas e igrejas


Famoso Peter Café Sport, no Faial

Velha tradição de marinheiros, deixando a sua marca no porto da Horta

Botes baleeiros, antes utilizados para arpoar baleias. Mas como era possível, nestas coisas tão pequenas?!!! Com muita coragem à mistura, concerteza!!!

Um dos barcos que assegura as travessias no triângulo

Mento, nome curioso para um barco...
Ilhéu em pé. Há uns anos atrás estive para naufragar contra este ilhéu, numa quase trágica noite de Verão. Foi uma aventura com final feliz. Talvez um dia conte aqui esta deliciosa história...

Ilhéu deitado

E o meu tempo nas ilhas acabou com a cereja em cima do bolo: uma saída de observação de baleias, com o Espaço Talassa, de início pouco promissora, uma vez que o vigia não tinha avistado nada realmente promissor, mas depois com encontros imediatos de alto nível, não com uma, mas com quatro espécies de cetáceos.

Golfinho comum (Delphinus delphis)
A certa altura, os golfinhos avistam um peixe voador e iniciam uma perseguição feroz para o capturar. Um momento incrível!!!
Peixe voador (Exocoetus volitans)
.
As baleias sardinheiras surgem do nada, e logo seis de uma vez. São as baleias mais rápidas dos oceanos, e apesar de não serem as maiores, o seu tamanho impressionou todos. Mágico, com a ilha do Pico como pano de fundo...

Baleia sardinheira (Balaenoptera borealis)



Avistámos também o Roaz dos Açores (Tursiop truncatus) e o Grampo (Grampus griseus), dos quais não conseguimos fotos, infelizmente. Não me queria vir embora...

Share this:

CONVERSATION

0 comentários: