Um dos sítios da cidade do Porto que mais me faz sentir em casa é o
mercado do Bolhão. Ali, pela mão da minha mãe, percorri todos os
corredores, comprando um pouco de tudo o que era necessário para
alimentar a família, antes da chegada dos grandes "mortórios" do
comércio de rua, que hoje vivem agarrados aos centros urbanos, como
vivem os parasitas num animal maltratado e abandonado...
Quando me apetece sentir o rebuliço próprio desta maravilhosa cidade onde orgulhosamente nasci
e cresci, e ouvir as vozes de quem nunca se resignará, é este mercado
que remonta a 1839, construído por cima de um lameiro, atravessado por
um regato que ali formava uma bolha de água, que procuro,
terapeuticamente. É como entrar num vortex que me transporta à infância e
a um tempo de carácter genuíno, como são sempre esses tempos para quem
os fantasia.
O mercado está
velho e decrépito, mas tudo nele parece clamar a eterno. Quem lhe vive
nas entranhas ainda são os mesmos seres enzimáticos, catalizadores de
uma mudança que tantos como eu desejam para este espaço.
Um
mercado com vocação disso mesmo, sem as aspirações mercantilistas de
tantas cópias que se repetem, um pouco por todo o lado, esvaziadas de
essência e cheias de passeantes que levam retratos mas não regam com os
seus contributos de quem passa e aposta, consumindo, no futuro deste
género de espaços e das pessoas que os enriquecem...
Cabe ao edil
do Porto e, como sempre, aos portuenses, recém nomeados cidadãos
urbanos mais felizes da Europa, exigir uma reabilitação à altura deste
coração da cidade, como se de uma unidade de saúde fundamental se
tratasse.
Asseguro que rejuvenescido o espaço com dignidade, será mais importante para a cidade do que uma estância termal.
Comercializar alimentos produzidos em proximidade, por produtores
nacionais e apostar na relação directa dos pequenos comerciantes com o
consumidor, reduzirá drasticamente as contas no médico dos cidadãos da
Invicta, aumentará a auto-estima e a cultura gastronómica e acima de
tudo, dará um sinal ao mundo de que somos aquilo que sempre fomos, gente
do mais civilizado gosto, fiel ao legado e invicta na convicção.
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