Se o agricultor não planta, a sua cidade não janta.

Temos pela frente o enorme desafio de superar esta grave crise sanitária, como ao longo da história da humanidade sempre conseguimos fazer.

Ao contrário de outros tempos, temos hoje ao dispor a melhor tecnologia e ciência, conseguimos comunicar com qualquer recanto do mundo em tempo real.

Na batalha contra a pandemia, recebemos notícias diárias que nos relatam iniciativas extraordinárias.

Produção local de ventiladores para os doentes nos hospitais, produção local de gel desinfectante para as mãos, produção local de luvas e máscaras, armas indispensáveis para conseguirmos vencer esta provação.

Esta reacção rápida de grupos locais, que de repente começam a produzir o que antes era produzido do outro lado do mundo, tem recebido destaque em toda a imprensa internacional.

Tem sido crucial em todo este processo a forma cívica como a maioria dos cidadãos se tem comportado perante a exigência de quarentena, estando apenas em funcionamento os sectores que são fundamentais para assegurar que, apesar de tudo, a vida continua.

Depois de superada, esta crise sanitária não pode ser esquecida. São fundamentais as lições que todos devemos retirar das enormes provações que nos causa e causará nos próximos tempos.

No futuro, temos a garantia absoluta que haverá mais crises, catástrofes naturais, alterações profundas no clima e na disponibilidade de recursos, para todos.

Na eventualidade de uma crise alimentar, que poderá tal como esta, começar de um dia para o outro, as repercussões nas nossas vidas serão muito mais profundas e intensas do que as de uma crise sanitária.

Será impossível conter os cidadãos, da mesma forma ordenada e pacífica, que temos conseguido com esta pandemia. Não podemos por isso aguardar simplesmente que aconteça.

Muito menos num país como Portugal, cuja distribuição de produtos alimentares depende em boa parte do que nos chega de fora.

Ninguém segura cidadãos na eminência de falta de alimentos ou água potável. O caos instala-se muito mais rapidamente do que qualquer vírus.

Depois de superada a crise sanitária, depois de termos ganho esta batalha, não podemos deixar de nos preparar para uma grave crise alimentar.

Nunca como agora foi tão importante discutir o papel da agricultura nacional, de proximidade, e o seu papel na manutenção da segurança e da soberania nacional.

Reavaliar o papel crucial das diferentes cadeias de distribuição, tantas das quais fomos destruindo (mercados locais, mercearias, compra directa ao agricultor, pequenos supermercados), investindo em circuitos curtos de distribuição, apostando na agricultura nacional, evitando uma potencial escalada de preços, escassez de alimentos e o enorme desperdício alimentar que os sistemas actuais de produção e distribuição geram.

A agricultura e os agricultores de proximidade são absolutamente fundamentais nos planos de contingência das crises alimentares que se adivinham.

Ao contrário dos produtores de ventiladores, gel desinfectante, máscaras e luvas, criados à última da hora, os produtores locais dos vossos alimentos já existem.

Precisam que a sociedade os reconheça de uma forma bem diferente da actual. Porque amanhã se o agricultor não planta, a sua cidade não janta.
 
 

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