Sexta-Feira ou a Vida Selvagem

Sexta-Feira ou a Vida Selvagem é uma minissérie de três episódios, adaptada do livro de Michel Tournier, inspirado em Robinson Crusoe de Daniel Defoe, e realizada por Gérard Vergez.

Passou na RTP nos anos 80 e contava com o épico Michael York, no papel de Robinson Crusoe, e o jovem Gene Anthony Ray, que ganhou Fama e marcou toda uma geração como ator na série homónima, no papel de Sexta-feira.

A minissérie aparenta ter-se perdido sem deixar rasto, já que a informação disponível sobre a mesma é pouca e difícil de encontrar.

Teria pouco mais de 10 anos quando vi esta série na televisão, foi absolutamente marcante na minha vida.

Depois de anos de solidão, Crusoe começa a sofrer de dendrofilia, uma parafilia na qual alguém sente atração sexual por árvores, legumes, plantas em geral. 

Após uma má experiência com uma picada de aranha nas partes íntimas, evolui para aquilo que hoje é designado como ecossexualidade, ou seja, uma forma erotizada de adoração da natureza.

Crusoe aprende a amar a sua ilha, Speranza, como um todo e a conceber a Terra como uma entidade viva.

Um dia, ao acordar de uma soneca ao ar livre, sente-se invadido por uma estranha ternura por Speranza.

Deitou-se no solo, respirando de forma ofegante, e a terra respondeu, enchendo as suas narinas com um cheiro forte e intenso. Petricor, o aroma dos Deuses que o solo liberta após as primeiras chuvadas.

Uma estranha intimidade transbordou numa imensa compaixão por toda a criação, tendo como apoteose a libertação da sua semente na terra, um estranho casamento, consumado na vasta solidão do Pacífico.

Quase um ano depois, Crusoe percebeu que o seu amor estava a provocar uma mudança na vegetação daquele local. 

A sua atenção foi atraída pelo crescimento de uma nova espécie que ele não tinha visto em nenhum outro lugar da ilha.

Observou as plantas com curiosidade, mas não pensou mais nelas até que se tornou evidente que apareceram no local exato onde havia semeado a sua própria semente.

Um dia ajoelhou-se ao lado de uma das plantas, levantou-a muito suavemente do chão, cavando em torno da raiz com as mãos. 

Era verdade! O seu amor por Speranza não era estéril. 

A raiz branca, carnuda, curiosamente bifurcada, tinha uma inegável semelhança com o corpo de uma mulher. 

O homem que se casou com a terra, gerou mandrágoras (Mandragora officinarum), plantas bíblicas, com uma raiz principal bifurcada bastante ramificada, muitas vezes tomando forma humana, às quais são atribuídas virtudes medicinais, afrodisíacas alucinogénicas, analgésicas e narcóticas. Uau!

Desde então, sempre que me cruzo com uma raiz como a desta cenoura, viajo até Speranza e compreendo melhor o fenómeno da solidão.

Se Robinson Crusoe encontrou soluções para combater a solidão, perdido numa ilha deserta, cada um de nós também as poderá encontrar. 

Porque vivemos rodeados de um universo maravilhoso, onde é cada vez mais importante valorizar a amizade e o amor pelo próximo, ferramentas essenciais para nunca nos sentirmos perdidos no infinito vazio.

Não consegui fazer uma sopa com esta cenoura, não sem antes fazer dela uma história que partilho com todo o carinho. 

Será servida hoje ao jantar, celebrando a família e o amor incondicional pela vida!
 




 

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