MAGNÓLIA-FIGO (Port Wine Magnolia)

O que tem uma banana, as flores de uma rara magnólia pré-histórica e vinho do Porto vintage em comum?!  
 
Um aroma de tal forma viciante que aciona o mecanismo do desejo. Quero que esteja sempre comigo, nem que para isso tenha que o encerrar num frasco para o poder sentir quando e onde quiser.

Preparada/o para ler um dos mais fascinantes relatos sobre plantas que já escrevi?! Vamos lá!

A magnólia-banana foi inicialmente descrita em 1790 pelo missionário e naturalista jesuíta português, João de Loureiro, como Liriodendron figo, na sua obra Flora Cochinchinensis, página 347, da qual partilho uma imagem.

Mais tarde foi reclassificada como Michelia figo pelo botânico alemão Curt Polycarp Joachim Sprengel. Em 2006 passou a designar-se como Magnolia figo.

No entanto as Michelia sp. diferem das Magnolia sp., porque florescem entre as folhas e não nas extremidades dos caules.

Considerado um dos mais importantes botânicos europeus do século XVIII, o padre João de Loureiro reúne consenso internacional como um grande especialista em flora asiática. A sua vida e obra são absolutamente extraordinárias, ainda que lamentavelmente a sua memória se encontre algo perdida…

É um arbusto perene compacto, de crescimento lento, que pode atingir 4 metros de altura. Conheço alguns exemplares que assumiram porte arbóreo.

Ao longo do fim do Jurássico e de todo o Cretáceo, várias espécies de magnólias criaram bosques mistos com gimnospérmicas, numa exuberante combinação florística que deu origem às atuais angiospérmicas, iniciando assim o declínio do domínio das coníferas e gimnospérmicas em geral.

Existem fósseis destas plantas com 95 milhões de anos! Podemos imaginar insetos pré-históricos esvoaçando entre as suas flores perfumadas. Ramos e flores serviram de pasto a várias espécies de dinossauros, juntamente com fetos e cavalinha!

Existem registos da sua introdução nos jardins de Lisboa entre 1850 e 1900. Esta espécie é originária da China.

A magnólia-banana é assim designada graças ao inebriante e frutado aroma exalado pelas suas flores, semelhante a banana ou vinho do porto vintage. Tal se deve à presença de álcool isoamílico.

O perfume inebriante surge a meio do dia, quando as novas flores se abrem, e é mais forte no final da tarde e à noite.

Engana-se quem acha que os aromas que as plantas libertam servem apenas para agradar ao nosso olfato! Na realidade, tem uma função biológica importante para as plantas, atraindo criaturas polinizadoras que são necessárias para a sobrevivência da espécie.

Como é possível que na Austrália e Nova Zelândia seja sobejamente conhecida como Port Wine Magnolia e por cá a maioria das Quintas e produtores de vinho do Porto nunca tenham tido o prazer de inalar o seu maravilhoso perfume?

É uma das minhas árvores favoritas do jardim produtivo do Cantinho das Aromáticas.

Colho um punhado de flores e coloco no bolso da camisa, desfilo confiante e com um sorriso que deve parecer aos outros, o de um tolo.

O calor do meu corpo e o delas, unidos, garantem um fluxo constante deste perfume dos Deuses, apenas acessível ao meu nariz.

Mas a flor é traiçoeira, uma amante de um dia só. Na manhã seguinte já lá não está o seu cheiro, saiu sem avisar, deixando para trás algumas pétalas sem alma.

Tenho apenas alguns dias para voltar ao lugar onde nos conhecemos, porque o período de floração é curto, depois desaparecem sem deixar rasto.

Uma tarefa que se afigura complexa, não só pela sua extrema raridade nos jardins portugueses, mas sobretudo porque o seu período de floração se resume a poucas semanas.

Por isso, se o quiser sentir, tem mesmo que percorrer demoradamente os nossos jardins produtivos nos próximos dias. Inalar o seu aroma é uma das mais antigas e extraordinárias experiências olfativas do planeta Terra!



 

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