Orquídeas portuguesas
Representam o mais recente e supremo exemplo da inteligência das plantas. A família das orquídeas é uma das famílias botânicas mais recentes e com maior número de espécies, espalhadas pelo mundo inteiro. Estima-se que possam existir entre 20 000 a 40000 espécies distintas.
As orquídeas que hoje em dia se compram em hortos e supermercados são habitualmente híbridos comerciais de espécies tropicais. São comercializadas em vaso, quase sempre em floração, tantas vezes morrem porque quem as adquire desconhece as suas necessidades específicas.
Contrariamente às espécies tropicais e subtropicais, que são geralmente epífitas (vivem sobre troncos e materiais lenhosos, que utilizam como suporte), as orquídeas europeias são todas terrestres.
Sabia que existem orquídeas silvestres de Trás-os-Montes ao Algarve? E também nos Açores e Madeira?
Para a maioria das pessoas, mesmo aquelas que apreciam plantas, custa a acreditar que existem várias espécies espontâneas em Portugal, muitas delas correndo severo risco de extinção.
Até há bem pouco tempo, só botânicos e apaixonados por flora espontânea sabiam da sua existência.
No entanto, assim que as descobrimos e olhamos com olhos de ver, ficamos para sempre rendidos à sua beleza, que na minha opinião, supera largamente a dos híbridos comerciais.
Passam quase totalmente despercebidas à maioria das pessoas, já que apresentam dimensões bem mais reduzidas do que as das suas parentes tropicais.
Para as apreciarmos, temos que nos aproximar. É quando estamos bem perto que se dá a magia.
Foi o que aconteceu este fim-de-semana, em São Martinho do Porto.
Cruzei-me com alguns exemplares de erva-abelha-maior, também conhecida por erva-abelha-pequena-dos calcários, abelhão ou erva espelho-de-vénus (Ophrys vernixia sin. Ophrys speculum subsp. lusitanica).
Tal como outras espécies de orquídeas espontâneas em Portugal, desenvolveram um dos mais engenhosos e extraordinários sistemas para atrair os insetos que as polinizam. A flor é uma imitação do corpo da fêmea da vespa Dasyscolia ciliata, cujo macho, atraído pela flor, aterra no labelo ansioso por copular!
Como se não bastasse às flores assumirem a silhueta perfeita da vespa-fêmea, emitem um irresistível perfume, semelhante às feromonas (hormonas sexuais) produzidas pelas fêmeas do inseto, com o objetivo de enlouquecer os machos!
Há milhares de anos que esta espécie de vespa é vítima de uma fraude! Este é um dos embustes sexuais mais inteligentes e elaborados do reino vegetal!
Todas elas produzem microscópicas sementes, em grandes quantidades, no interior de uma cápsula. São tão pequenas que se assemelham a um pó muito fino.
Com a ajuda do vento, dispersam a grandes distâncias. Apesar do seu elevadíssimo número, as probabilidades de germinação são muito pequenas.
Ao contrário da maioria das sementes de outras plantas, que dependem do endosperma, que serve de combustível à germinação, as sementes das orquídeas são desprovidas deste ‘saco energético’.
A germinação depende, acima de tudo, da presença no solo de um fungo simbiótico que infecta a semente em germinação, ocorrendo troca de substâncias entre ambos. Só posteriormente serão emitidas as primeiras raízes e folhas.
É necessário que passem vários anos (o tempo varia com a espécie), desde que se dá a germinação até que se desenvolva uma planta completa, capaz de formar flores e sementes. Em algumas espécies esse período pode superar os 10 anos.
As orquídeas portuguesas são verdadeiras raridades botânicas, com populações em decréscimo acentuado, apesar de algumas espécies poderem surgir localmente, com abundância.
A destruição do seu habitat e a recoleção de plantas, para serem comercializadas num próspero negócio de venda através de plataformas especializadas na internet, tem vindo a contribuir para o seu desaparecimento.
O desconhecimento do status de conservação, para espécies como a que observei, também não ajuda.
Bem promovido, o turismo botânico em Portugal poderia contribuir com milhões de euros para a economia.
São por isso urgentes medidas de conservação das orquídeas espontâneas no nosso território. Existe um número crescente de pessoas com enorme interesse em realizar safaris fotográficos, com vista a conquistar raros troféus, que vivem esquecidos e cada vez mais escassos, de norte a sul e ilhas.
De Março a Junho podemos encontrar diferentes espécies em floração. Se as vir, agradeça ao universo a oportunidade, fotografe-as, peça ajuda para as identificar, mas nunca as colha ou arranque.
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