Alfinetes

Nesta altura do ano, se estivermos atentos, é fácil de observar em toda a cidade do Porto. Porque é uma planta rupícola, prospera nos muros, brechas, rochedos e escarpas de granito, da muralha Fernandina à Sé Catedral, passando pelo cais da Alfândega, até à Foz.
 
Rara é a fraga ou escombreira onde não se encontre, em plena floração. Conhecida pelos nomes vulgares alfinetes, cuidado-dos-homens ou valeriana-vermelha (Centranthus ruber).
 
É uma belíssima planta ornamental, utilizada pelo mundo inteiro, mas largamente desprezada em Portugal, apesar de ter sido introduzida, pelas provas dadas nas mais extremas condições de cultivo. Algo que não a preocupa muito, pela forma como se passeia pela cidade.
 
Parece que quanto mais velho é o granito, mais luxuriantes são os maciços floridos que faz questão de exibir. É da família da valeriana (Valeriana officinalis), planta com a qual partilha uma virtude terapêutica muito apreciada pelos seres humanos que vivem nas grandes cidades.
 
Ninguém será alheio ao Valdispert, medicamento à base de raiz de valeriana, vendido em todas as farmácias, indicado para o alívio temporário de perturbações nervosas ligeiras (tais como tensão nervosa, irritabilidade, stress do dia-a-dia, ansiedade ligeira, dificuldade de concentração) e alívio temporário da dificuldade em adormecer.
 
Quem já não terá tomado pelo menos um?!
 
Pois a valeriana-vermelha, espontânea em toda a cidade, tem o potencial de produzir efeitos depressores do sistema nervoso central, similares ao da sua prima das farmácias.
 
Além disso, estudos científicos demonstraram aplicações potenciais de compostos extraídos da planta, como agentes antitumorais.
 
Sempre que encontro esta planta, ocorre-me um pensamento desafiante:
 
Por vezes, as soluções para os mais complexos problemas, mesmo aqueles que afetam a humanidade à escala global, encontram-se mesmo à nossa frente, podemos começar por tentar implementar estas soluções localmente”.
 
Quem sabe, se amanhã poderemos acordar com a notícia de que o Prémio Nobel da Medicina foi atribuído a investigadores, como aqueles que em 2015 demonstraram o potencial da utilização da artemisinina, extraída da Artemisia annua, no tratamento da malária.
 
A partir de estudos científicos desenvolvidos pela Universidade do Porto, sobre os compostos ativos com potencial terapêutico de uma planta que vive nos seus muros e escarpas, terríveis doenças poderão ser debeladas no futuro.
 
Enquanto aqui não chegamos, saiba que as folhas da planta podem ser consumidas cruas em saladas ou cozidas como legumes, mas devem apenas ser colhidas em locais que não estejam expostos a qualquer tipo de potencial contaminação.
 

 

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