Alegoria das cavernas

Crescemos a ouvir histórias do lobo mau, da cobra tentadora, da raposa matreira, do tubarão assassino de seres humanos… criaram-se mitos sem qualquer sentido, em torno de dezenas de espécies que hoje se encontram extremamente vulneráveis ou mesmo em risco de extinção.

Nenhum ser humano no século XXI deveria recear qualquer ser vivo, apenas demonstrar um enorme respeito e curiosidade pela criação com a qual partilhamos este maravilhoso Planeta.

A história do lobo mau não é mais do que uma alegoria das cavernas, em que se projeta uma sombra de uma realidade que não conhecemos porque não conseguimos ou queremos alcançar. Desconectados, vamos construindo uma realidade virtual que jamais será sustentável para a nossa espécie.

O lobo, a cobra, a raposa, o tubarão e milhares e outros seres vivos que habitam ora o meu imaginário, ora o meu dia-a-dia, são hoje tão frágeis, que desaparecerão irremediavelmente, ainda durante o nosso tempo de vida… e com eles desaparecerá a humanidade.

Desde bem pequeninos que ensino os nossos filhos a conhecer e respeitar os seres vivos com os quais partilhamos o planeta, para que saibam conviver com eles, livres do medo irracional. Incluindo os que geram maior repulsa na maioria das pessoas. Há vários anos que me insurjo contra estes medos, cultivados, geração após geração, no imaginário da população.

Todos os anos milhares de répteis são abatidos no nosso país, o que se traduz numa perda inestimável de amigos do agricultor. Algumas espécies de cobras alimentam-se de insetos e pequenos mamíferos.

Na sua ausência, as populações de pragas aumentam, causando muitos estragos na agricultura. O agricultor tenta depois superar a falta destes predadores, que geram o equilíbrio, com a utilização de pesticidas... que todos nós acabamos por ingerir...

Os répteis que vivem junto das culturas representam um serviço gratuito do ecossistema, assim saibamos respeitar a sua presença e educar para a enorme importância que tem para uma agricultura sustentável.

O primeiro contacto do Francisco com uma cobra foi aos 3 anos. Foi uma experiência mágica! A encantadora Beatriz lida com várias espécies, aprendeu a apreciar estes magníficos animais.

Alimentado pelo combustível da má comunicação social, todos os anos o pânico desenfreado rapidamente se instala e dá origem a uma caça às bruxas, com as vítimas do costume, como elo mais fraco.

A probabilidade de sermos mordidos por uma de duas espécies de cobras da fauna portuguesa, potencialmente perigosas para o homem, é incrivelmente baixa. Apesar da sua enorme importância para o equilíbrio dos ecossistemas, ambas são perseguidas impiedosamente. É pouco provável que haja vítimas mortais destes animais.

Curiosamente, as estatísticas demonstram que o animal que mais mata em Portugal é o melhor amigo do homem! É necessário educar continuamente para que as gerações futuras aprendam a importância de todos os animais para a agroecologia.
 



 

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