Lençois

Não haverá muitos prazeres maiores do que abrir e deitar numa cama feita de lavado, com lençóis secos ao sol, meticulosamente esticados pelas mãos de quem o faz com mestria. Na hora de escolher, todos os caminhos levam ao berço da nação. É lá que se fazem os melhores, que se estendem e repousam em camas do mundo inteiro.

Haverá ainda quem escolha lençóis de cama como se escolhe bacalhau para a consoada de Natal?! Há, mas somos cada vez menos. Os dilemas são enormes. Qual o tamanho do colchão? Qual o tamanho correto de cada lençol? Qual o melhor tecido para cada época do ano?

E as fronhas? Já para não falar numa das piores invenções da história da humanidade, o edredão. Que deveria ser proibido, porque nenhuma cama é verdadeiramente confortável, sobretudo nesta altura do ano, com uma destas coisas new age.

O calor húmido e os problemas de sono que provocam deviam ser considerados danos de saúde pública. Para a Primavera/Verão, sem dúvida que a melhor escolha são lençóis 100% algodão do Egipto, em percal de 400 fios. Percal ou cetim?

Prefiro percal (estrutura tradicional com um fio vertical sobre cada fio horizontal e vice-versa), é suave e durável, leve e perfeito para os meses quentes. A estrutura regular significa ainda que vai ficando mais macio com as lavagens.

Os lençóis da minha vida dormi-os numa majestosa cama, na igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma. No dia seguinte, em conversa com o Monsenhor, o céu apontava para Guimarães. Foi de lá que vieram todos os que nos aconchegam os son(h)os.

A tragédia assola-nos quando nos apercebemos que nenhuma das matérias-primas que compõem o manto celestial tem origem numa semente lançada em solo português. Hoje deitámo-nos numa cama que não soubemos cultivar. Resta saber quantas noites sem sono teremos que pagar por décadas a dormir, acordados.
 

 

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