Papoilas

Nas últimas semanas, este maravilhoso cenário faz parte do meu percurso diário até ao Cantinho das Aromáticas. Não é só bonito, é poético.

Sobretudo quando temos consciência de que as papoilas (Papaver rhoeas) foram expulsas das searas, pela aplicação sistemática de herbicidas seletivos, ficando condenadas a vaguear pelas bermas das estradas e caminhos-de-ferro. 
 
As enormes manchas de vermelho com que pintavam a paisagem são hoje uma memória cada vez mais longínqua. Uma das flores mais bonitas da flora de Portugal, esta planta anual não tardará a rarear. Colhidas antes da floração, as folhas jovens podem ser comidas, cruas em saladas, ou cozinhadas como espinafres ou em sopas. Pondere o seu consumo, podem ter efeitos sedativos! 
 
As flores são incrivelmente atraentes para os insetos polinizadores. As pétalas são comestíveis, abrilhantam qualquer salada. Em cápsula própria guardam o seu maior segredo. Sementes, até sessenta mil por planta, com um sabor semelhante ao da noz, muito utilizadas como condimento na cobertura de pão e bolos. 
 
É uma das estratégias mais notáveis das plantas, a produção de sementes em abundância. Desta forma, aumentam a probabilidade de começar uma nova viagem, abrindo caminho, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, tamanha é a sua resiliência. 
 
Neste caso, nas ruas de Canidelo, uma das freguesias mais populosas da grande cidade de Vila Nova de Gaia. Tenho apenas mais alguns dias para usufruir do cenário que faz parte do meu percurso diário, a flor é de curta duração. Não abdico de tamanho vislumbre, enquanto durar. 
 
Que mensagem maravilhosa se retira deste efémero encontro. Um oásis de papoilas no meio do betão, a enorme sensibilidade de quem cuidou que assim fosse. 
 
Cabe-nos perceber a lição da imagem das papoilas em fila, cravadas no cimento, rua abaixo. Saltaram muros para nos mostrarem que há sempre um caminho. E que ainda há esperança para a humanidade, se cada um de nós cuidar que assim seja.
 




 

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