Bagas negras do sabugueiro valem milhões

A baga do Sabugueiro está em alta no Douro Sul. Ultrapassado um ciclo de "crise profunda", os cerca de 800 produtores preparam-se para exportar duas mil toneladas para a Alemanha. A médio prazo, o negócio pode render seis milhões/ano.
A saída da crise que durante alguns anos afectou a produção da baga do sabugueiro, no Vale do Varosa, está a ser feita por fases. A primeira visou o aumento da produção - 900 toneladas em 2007, mais do dobro em 2008 e quatro mil no próximo ano.

O segundo passo foi dado há dias, na Alemanha, o principal país importador, onde uma delegação constituída pelos presidentes da Câmara Municipal de Tarouca e da Cooperativa Agrícola do Varosa conseguiram duas vitórias: assegurar o escoamento da totalidade da produção para um cliente tradicional, e obter uma valorização de três cêntimos por quilo.
O negócio representa, para 800 agricultores do Douro Sul (Tarouca, Lamego, Armamar, Tabuaço e Moimenta da Beira), um acréscimo de rentabilidade significativa com o quilo a valer agora 38 cêntimos. A exportação é feita há 40 anos para o grupo alemão Dinter, um dos maiores produtores de sumos concentrados da Europa.

"O importador sabe que a nossa baga é das melhores do mundo. Embora países como a Bulgária, República Checa, Hungria e Polónia também disputem o mercado, a baga do Varosa, em muito devido às condições climatéricas desta região, tem um grau de adoçante muito acentuado. Factor determinante para a opção de compra por parte de uma empresa transformadora do ramo alimentar", explicou ao Jornal de Notícias Mário Ferreira, presidente da Câmara de Tarouca.
Rogério Martinho, da Cooperativa Agrícola do Varosa, partilha da mesma opinião. "Estamos a falar de uma cultura com elevado potencial. E que se assume, cada vez mais, como uma forte e válida alternativa às culturas tradicionais, casos dos pomares e da vinha, que estão a passar por muitas e conhecidas dificuldades".

Mário Ferreira e Rogério Martinho, eleitos há menos de 15 dias para a presidência da Assembleia Geral e da Direcção, respectivamente, da recém criada Organização de Produtores Agrícolas do Varosa (OPAV), adivinham um futuro cada vez mais risonho para a baga do sabugueiro.
O optimismo radica, entre outros sinais, na decisão de pôr em marcha, ainda este mês, um projecto que passará pela construção de uma unidade para a transformação parcial do produto. O investimento poderá atingir os dois milhões de euros.
Para o efeito será constituída uma sociedade com os seguintes parceiros: a OPAV, que deterá 51% do capital social, as câmaras dos concelhos produtores com 25% e investidores privados com 24%.

"Competirá a esta organização promover a concentração e a transformação da baga do sabugueiro. A partir daí, esperamos gerar receitas na ordem dos seis milhões de euros/ano, depois de pagarmos o investimento feito", explicou Rogério Martinho.
O dirigente agrícola saúda, ainda, a recente inclusão da baga do sabugueiro na Organização Comum de Mercado (OCM). "Graças à nossa persistência, inclusive da Fenafrutas, desde Dezembro que este produto consta da listagem de frutas e legumes", diz.
O campo experimental da baga, criado há oito anos, permitiu conhecer melhor a planta e avançar para a elaboração de um caderno de especificações essencial ao processo de certificação em curso.

"É imparável. A baga do Varosa está no bom caminho. Cremos que, brevemente, será um produto de Denominação de Origem Protegida (DOP), concluiu.
Teresa Cardoso, Jornal de Notícias, 17/08/2008

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