Já não sentia nervoso miudinho há muito tempo na Praça, antes de entrar ao vivo. Mas desta vez, confesso que voltei a sentir aquele arrepio na espinha dos primeiros tempos... E tudo isto por causa deste personagem delicioso que é Maria José Valle. A convidada veio para falar de uma planta muito especial, que vegeta na sua região, e eu, somando as minhas proezas botânicas pelo meio. Ainda antes de entrar pude sentir toda a energia de Maria José e confesso que temi o pior. Mas afinal a rubrica acabou deliciosa, recheada de pequenas pérolas que só uma força da natureza pode acrescentar.

A planta em questão é o Rhododendron ponticum subsp. baeticum, vulgar rododendro, loendro, adelfeira, redondouro. É uma das plantas mais raras do país e existe muito concentrada, sobretudo na vertente norte da Serra do Caramulo, naquela que é conhecida por Reserva Botânica de Cambarinho, representando a maior mancha desta planta em território nacional, numa área de cerca de 24 hectares. Mas não é a única, como aliás pude comprovar em 2003, quando realizei uma expedição botânica em busca desta espécie, por terras algarvias. De facto também existe na Serra de Monchique, e até nos arredores de Odeceixe, embora extremamente rara, pude observá-la, sempre junto a linhas de água e em muitos casos, já dominada por outro tipo de vegetação, invasivo. Um facto que nos deveria envergonhar a todos a forma como tratámos o nosso património vegetal, com desprezo, falta de cultura, de investimento, de vontade, enfim... Algumas das fotos tiradas nesse maravilhoso Verão de 2003, onde com a ajuda do Sr. Jonas de Maria Vinagre, encontrámos as magníficas adelfeiras (nome por que são conhecidas estas plantas na região).

Convém aqui referir que o nome vulgar Loendro é atribuído a esta planta, sobretudo na região da Serra do Caramulo, mas existe uma outra planta também assim designada, muito comum no nosso país, em jardins e espaços públicos, até nas divisórias das auto-estradas, que é o Nerium oleander, também conhecido por cevadilha. Convém não confundir pois são absolutamente distintas, a começar pela sua frequência e distribuição em território nacional.

Fica o vídeo com mais detalhes. Atentem no momento em que se estabelece uma relação entre a origem celestial da planta e a nossa própria origem, de grande originalidade por parte de Maria José. Por ter floração num período muito curto (Maio-Junho), convém visitar a Reserva Botânica de Cambarinho em breve, esse maravilhoso monumento natural, legado de todos nós.