Boas práticas na aquisição de plantas aromáticas, medicinais e condimentares em viveiro - 2017

O Cantinho das Aromáticas foi o primeiro viveiro licenciado de plantas aromáticas, medicinais e condimentares a surgir em Portugal, em 2002. 

Criamos a primeira loja online a comercializar PAM em território nacional em 2007. 

Iniciamos a produção de centenas de espécies distintas destas plantas, que mais tarde vieram a ser plantadas por centenas de agricultores em Portugal, assumimos um papel fundamental na escolha de espécies que os primeiros agricultores vieram a instalar, sendo estas ainda hoje as mais cultivadas no nosso país.

Em 2006, fomos a primeira empresa a cultivar PAM ao ar livre, num inovador sistema de produção, com telas e sistema de rega, colheita mecânica, secagem e métodos de processamento mais sofisticados, em modo e produção biológico, com o objectivo de exportar a granel, o que fizemos durante 7 anos consecutivos. Desde então o modelo produtivo que criamos de raiz, tem feito escola em Portugal e em outros países, um pouco por todo o mundo.

Desde o primeiro dia sempre tivemos as portas abertas para que os novos agricultores pudessem aprender sobre toda a lógica de produção desenvolvida. A maioria dos primeiros agricultores de PAM do país, antes de o serem, frequentaram o nosso espaço e muitos destes fizeram aqui semanas ou mesmo meses de voluntariado.

Há 15 anos que fazemos selecção massal das plantas que cultivamos, uma das razões fundamentais para que os produtos que comercializamos sob a forma de infusões, tisanas e condimentos, estejam nos últimos 3 anos, entre os melhores do mundo, sendo sucessivamente premiados, quer em Portugal, quer internacionalmente.

Com o aumento exponencial de novos produtores de PAM em Portugal, a partir de 2011, dá-se um aumento da procura de plantas em alvéolo, para o qual o nosso viveiro não teve capacidade de resposta. Temos apenas capacidade para fornecer 6-8 novos produtores por ano e com estes tentamos sempre desenvolver uma relação de parceria e cooperação comercial.

Surgiram entretanto novos viveiristas, dando resposta ao mercado, ao mesmo tempo que tiram partido da excelente oportunidade económica que é para um produtor instalado poder vender plantas a novos produtores. Alguns deles com pouquíssimos conhecimentos botânicos e experiência de mercado, como forma de se afirmarem no mercado, oferecem as plantas que produzem a preços muito baixos.

Uma das consequências mais graves desta nova oferta é o corte acentuado de verbas na aprovação de novos projectos. Quem recorre a bons viveiristas, que fornecem plantas certificadas e de excelente qualidade, depara-se frequentemente com alguns entraves, porque nos serviços do IFAP os técnicos que avaliam os projetos sabem que existem no mercado plantas mais baratas, mas não questionam a sua qualidade, enquanto pés-mãe. 

A avaliação das plantas pelo serviços do IFAP faz-se meramente pelo seu valor económico no momento da compra, não pela sua pureza varietal ou futura produtividade, quer numa vertente quantitativa (quilos), quer numa vertente qualitativa (compostos, análise sensorial). 

Milhares de plantas que circulam hoje no mercado viveirista não são das espécies correctas, chegam aos novos produtores em fracas condições sanitárias, mau desenvolvimento radicular, geram uma mortalidade elevadíssima e prejuízos avultados aos novos produtores.

Só nos últimos 2 anos foram centenas os telefonemas, mails e visitas que recebemos de novos agricultores, com problemas graves por resolver. É humanamente impossível conseguirmos dar resposta a tantos pedidos. 

Frequentemente as pessoas choram de arrependimento por não terem assegurado com o viveirista o fornecimento adequado de plantas e por terem cedido à tentação de comprar as mais baratas que encontraram. Na realidade, muitos pagarão bem mais caro depois de se instalarem.

O nosso foco tem sido sempre olhar para a frente e fazer cada vez melhor, sempre acrescentando valor e conhecimento a esta fantástica fileira de produtores de PAM em Portugal. Se há algo que nos orgulha, é que esta fileira, com o nosso contributo e inspiração, será uma das únicas fileiras de PAM em modo de produção biológico do mundo.

Aos novos produtores que neste momento tem que decidir em que viveirista vão comprar as suas plantas, recordamos as boas práticas na aquisição de PAM, que partilhamos em Maio de 2015.

Recordamos também que as nossas plantas são produzidas com o maior carinho e dedicação, a partir dos nossos pés-mãe e das plantas que cultivamos para a nossa marca própria. A maioria já foi alvo de diversos estudos científicos ao longo dos últimos anos e a sua enorme qualidade é mais do que reconhecida. 

A agricultura é para cavalheiros, senhores e senhoras com um estilo de vida peculiar, que fazem jus à sua palavra. Trabalhe sempre com pessoas de palavra e mantenha a sua. Faça disso uma questão de honra. 

Boas práticas na aquisição de plantas aromáticas, medicinais e condimentares em viveiro 

O número de projetos de produção de plantas aromáticas, medicinais e condimentares (PAM) ao ar livre, em modo de produção biológico (MPB), para posterior secagem, tem vindo a aumentar em Portugal. Como consequência a procura de plantas para a instalação destes cultivos junto dos viveiristas aumentou também, de tal forma que supera neste momento a capacidade instalada no país para dar resposta à procura.

Surgem entretanto novos viveiristas, oferecendo plantas a preços muito baixos, como forma de se tornarem competitivos, mas ainda sem a experiência necessária para oferecerem plantas e serviços com elevada garantia e qualidade.

Considero fundamental a visita do promotor aos viveiros selecionados aquando da consulta de preço, quer sejam em Portugal ou num outro país, de forma a poder verificar com os seus próprios olhos todas as condições de produção.

É crucial assegurar que, posteriormente à aquisição de plantas, continuará a existir uma ligação com o viveirista, quer seja no apoio e esclarecimento de todas as dúvidas que surgirem, quer seja na ajuda ao escoamento da produção. 

Muitos dos novos agricultores já instalados são bombardeados com frequentes dúvidas para as quais é impossível ter disponibilidade para responder.

Aquando da seleção do viveiro para a aquisição das suas plantas, garanta que consegue as melhores condições de pós-venda, para que a relação com o viveirista não termine no momento em que pagou as plantas.

Leia com atenção as condições de venda do viveirista. Lembre-se que, ao encomendar as suas plantas, está a formalizar um contrato de compra e venda, regulado pela legislação portuguesa.

Desta forma torna-se imprescindível ao promotor obter material vegetal de qualidade irrepreensível para que o seu projeto seja bem-sucedido, já que o mercado é extremamente exigente no que respeita à correta identificação das espécies cultivadas. 

Pureza varietal das plantas a adquirir

A escolha do material vegetal assenta, na maioria dos casos, no menor preço de mercado, sendo que a maior parte dos promotores não dedica especial atenção à pureza varietal. Infelizmente é cada vez mais frequente encontrar novos projetos plantados com espécies erradas ou híbridos muito heterogéneos obtidos por semente, com pouco ou nenhum valor comercial. 

O custo de uma planta propagada por semente é normalmente muito inferior ao custo de uma planta propagada por estacaria ou divisão. Por outro lado, a pureza varietal da maior parte das plantas propagadas por estacaria/divisão é muito superior. 

Nenhum híbrido deverá ser propagado por sementeira (ex: tomilho-limão/Thymus x citriodorus; Hortelã-pimenta/Mentha x piperita), pois a probabilidade de vir a gerar populações em cultivo muito heterogéneas é enorme, com todos os problemas que isso implica, quer ao nível da produtividade, quer da qualidade obtida.

É fundamental garantir que estamos a adquirir as espécies pretendidas e não espécies semelhantes. É vulgar encontrar plantações de erva-príncipe (Cymbopogon citratus) uma gramínea tropical difícil de obter por semente, em que na realidade está plantada uma espécie similar (C. flexuosus; C. nardus; C. winterianus), mas cujas propriedades são absolutamente distintas das que o mercado pretende.

Também em cultivos de estragão-francês (Artemisia dracunculus) é vulgar encontrar estragão-russo (Artemisia dracunculoides), este facilmente obtido por semente, mas sem cheiro, sem sabor e sem valor comercial, ao contrário do primeiro, muito aromático, mas só obtido por estacaria, sendo o seu enraizamento difícil de obter com grandes percentagens de sucesso.

Não são autorizadas em MPB plantas provenientes de viveiros convencionais, obtidas por micro-propagação (ex: culturas in-vitro) nem plantas geneticamente modificadas. A utilização deste tipo de plantas pode pôr em risco todo o projeto.

De seguida, enumero um conjunto de procedimentos que considero fundamentais para a correta aquisição de material vegetal, fundamental na obtenção de colheitas de grande qualidade. 

Seleção dos viveiros a contactar

Tudo começa com uma prospeção de mercado, na qual o promotor do projeto de produção de PAM fará uma consulta de disponibilidade e preço das plantas que pretende adquirir. Tendo em conta a legislação, a certificação MPB, deverá ter o cuidado de fazer uma rigorosa seleção, de forma a não cometer erros nesta fase. 

Os viveiros a contactar para a consulta e aquisição de PAM devem cumprir os seguintes requisitos:

  • Ter atividade legalmente constituída para o efeito;
  • Ter licença de viveirista/passaporte fitossanitário; 
  • Estar certificado para o modo de produção biológico, como viveirista; 
  • Ter outras certificações que atestam a qualidade de produção ou origem do material genético; 
  • Ter pés-mãe dos quais são provenientes quer sementes, quer partes de plantas usadas na propagação das plantas que comercializa; 
  • Poder receber visitas do potencial comprador e toda a estrutura produtiva ser observada pelo mesmo.  

Deverá o promotor do projeto enviar um mail aos diversos viveiristas que selecionou, com o pedido de orçamento, onde constem as seguintes informações: 

  • Dados pessoais (ex: nome, morada completa, contactos);
  • Nome vulgar e o nome científico das espécies que pretende adquirir (ex: Tomilho-vulgar/Thymus vulgaris); 
  • Quantidades exactas de plantas das quais pretende cotação, por espécie;

Deverá solicitar ainda as seguintes informações:

  • Quais as plantas propagadas por semente e quais as plantas propagadas estacaria/divisão/enxertia;
  • Condições comerciais; 
  • Calendário de produção; 
  • Prazos estimados de entrega; 
  • Condições de transporte até às suas instalações.

Calendarização da entrega

A maior parte das plantas propagadas por estacaria/divisão só podem ser multiplicadas a partir do momento em que apresentam crescimentos com tamanho suficiente para serem cortados ou divididos com o objetivo de enraizar. Isto só acontece para a maioria das espécies, a partir de finais de Março, meados de Abril, de acordo com as condições climáticas do ano. 

O que significa que a entrega de plantas propagada por estacaria/divisão só pode ser feita a partir de finais de Maio, meados de Junho e durante todo o Verão, até Setembro para espécies vivazes (ex: hortelã-pimenta, estragão-francês) ou Outubro, para espécies perenes (ex: tomilho-limão, limonete).

As plantas propagadas por sementeira ficam normalmente disponíveis mais cedo, pelo que convém acordar com o viveirista a entrega destas plantas em primeiro lugar.

Não se esqueça que, ao formalizar a encomenda está a aceitar e concordar com as condições de venda do viveirista, como acontece em qualquer outra relação comercial. 

Formalização da encomenda

A maior parte dos viveiros aceita a encomenda de plantas com uma percentagem (%) do valor total da mesma, como entrada. A encomenda deve ser feita com a maior antecedência possível, em relação à data prevista para a plantação. A entrega de plantas é normalmente faseada, de acordo com a disponibilidade das mesmas, resultante da programação do viveirista e do acordo, entretanto definido com o promotor do projeto, para a entrega de plantas.

É frequente haver pedidos de alteração de espécies ou do número de plantas por espécie, depois da encomenda ser formalizada. O viveirista não é legalmente obrigado a fazer essa alteração, pelo que o promotor deverá estar seguro das espécies e da quantidade de plantas que pretende adquirir no momento da formalização da encomenda.

Num mau ano agrícola, o viveirista poderá não conseguir cumprir com a entrega da totalidade das plantas na calendarização pré-estabelecida, o que normalmente surge salvaguardado nas condições de venda que o promotor aceitou ao formalizar a encomenda de plantas. Cabe às partes o bom senso de perceber e ultrapassar esta situação. Cabe relembrar ao promotor do projeto que também ele será agricultor, exposto às mesmas dificuldades que o viveirista enfrenta na gestão do aleatório, do clima às pragas e doenças e outras catástrofes naturais. 

Receção das plantas

Cabe ao promotor reunir todas as condições necessárias para receber as plantas nas datas previstas de entrega. É fundamental assegurar na exploração uma zona com condições mínimas de rega, luz e proteção contra animais e outros potenciais invasores, que funcione como local temporário onde as plantas vão permanecer, após a sua entrega e até serem plantadas.

Qualquer reclamação devidamente fundamentada deverá ser feita nas 24h posteriores à receção das plantas. Findo o prazo, as plantas ficam por conta e risco do cliente. O cliente é o único responsável pela manutenção das plantas a partir do momento em que as recebe.

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