Erva-peixeira

Também conhecida como hortelã-da-ribeira ou alecrim-do-rio, a Mentha cervina foi classificada outrora como Preslia cervina, representando para os botânicos da altura a única espécie do seu género. É um endemismo ibérico, pelo que representa um património genético e cultural que urge defender, já que esta planta vai rareando na natureza a uma velocidade preocupante. Isto deve-se ao facto de não ser tão competitiva quanto as outras plantas do mesmo género, sendo as populações selvagens facilmente destruídas com a modificação ou destruição do seu habitat natural.

Apesar deste facto, facilmente a podemos cultivar no nosso jardim para depois tirar partido do seu fantástico aroma e das suas particulares propriedades enquanto planta condimentar, praticamente esquecida da tradição gastronómica portuguesa. Ainda há quem a utilize, normalmente em regiões do interior, como por exemplo, na foz do rio Sabor, onde algumas tascas e restaurantes típicos servem peixes do rio fritos, regados com o molho da erva-peixeira. Também no Alentejo, onde é conhecida como hortelã-da-ribeira, vai sendo utilizada da mesma forma.

Vivaz, como todas as Mentha, a floração ocorre entre Junho e Setembro, produzindo inúmeras flores brancas que atraem insectos úteis em abundância, sendo também uma óptima planta de companhia para tomateiros, couves, alfaces e outras, já que repele certas pragas. Resistente às geadas, prefere solos ricos em matéria orgânica, húmidos, expostos ao sol, embora consiga adaptar-se perfeitamente a situações de sombra. Gosta de ser bem irrigada de Verão. Excelente alternativa para cultivar na proximidade de lagos, zonas húmidas, piscinas biológicas e até em vasos de plantas maiores, como planta de revestimento.

A propagação pode fazer-se por sementeira, na Primavera, embora seja muito mais simples de propagar por estacaria ou divisão de rizomas, em qualquer altura do ano, sendo mais vantajoso fazê-lo desta forma, pois existe forte possibilidade de variabilidade genética quando se efectua a sementeira, já que todas as Mentha hibridam com alguma facilidade.

É sensível a doenças, como o oídio e podridões radiculares, que prejudicam ou destroem mesmo a planta. Uma boa forma de as evitar é podar constantemente a planta de forma a estimular novos crescimentos e manter a boa drenagem no local de plantação.

Utiliza-se a planta inteira, fresca ou seca, na preparação de infusões, que produzem um forte aroma, semelhante ao do poêjo, mas mais rústico, e que tradicionalmente é utilizada como digestivo. Deve colher-se assim que começam a surgir as primeiras sumidades floridas. Também em culinária pode acompanhar saladas, sopas, queijos e molhos.

Tal como no poêjo, a planta seca ou o seu óleo essencial são óptimos repelentes de ratos, que detestam o cheiro. Pode ser utilizada para espalhar em galinheiros, canis ou em zonas de armazenamento de cereais, de forma a mantê-los afastados.

Esta planta está ainda muito pouco estudada quanto à sua constituição e propriedades medicinais, estamos neste momento a apoiar um estudo sobre os seus constituintes voláteis e propriedades antioxidantes, efectuado pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto.

Temos vindo a cultivar esta planta cada vez mais e orgulho-me de poder dizer que estamos a contribuir de forma decisiva para recuperar esta espécie e toda a cultura gastronómica e ervanária em seu torno, já que a tornámos disponível para quem a quiser ter. Além disso, foi já apresentada a potenciais compradores no mercado internacional, que a desconheciam e ficaram espantados com o seu magnífico potencial.

Costumo contar sempre esta história: com o meu primeiro salário, há já alguns anos, decidi cometer uma pequena extravagância: comprar um polvo seco, iguaria difícil de obter, numa das mais bonitas mercearias finas da minha cidade, o Porto. Depois de demolhado, foi grelhado na brasa e servido com um molho feito com erva-peixeira, azeite, alho, sal, malaguetas e um pouco de aguardente. Inesquecível. Disponível aqui.

Share this:

,

CONVERSATION

1 comentários:

Anónimo disse...

Talvez me possa ajudar.
Ofereceram-me a planta limonete (que eu adoro) mas ela está a ficar com as pontas "pretas", secas... Não é falta de àgua, penso eu, porque tento manter a terra sempre humida. Como poderei cuidar dela? E já agora, sugira.me um livro para cuidar de plantas aromáticas. Também tenho hortelã, mas essa está a portar.se bem, por enquanto. Moro num apartamento.
Fico a aguardar uma resposta, obrigada.