Há um novo distúrbio alimentar: a obsessão pela comida saudável

Vivemos no mundo da pós-verdade, em que as notícias são “fabricadas” como as cervejas servidas nos grandes concertos ao ar livre, por apenas 2 ou 3 fábricas grandes, que as vertem ao ritmo frenético do virar da torneira, nas únicas barracas onde inevitavelmente as podemos encontrar, em copos de plástico descartáveis, que se atiram em boa maioria para chão. 

Como consequência, num universo de milhares de pessoas, há sempre muitos que ficam embriagados e todos acabam (ou começam) o dia caminhando sobre um monte de lixo.

Mas algo mudou recentemente nestes templos modernos de veneração: quem os convoca passou a exigir que cada copo descartável tenha um valor monetário (2 euros), provocando uma mudança significativa de comportamentos. 

A percentagem de embriagados será idêntica, mas o interminável manto de lixo final deixou de existir.

Há até quem se digne a apanhar copos do chão, para os devolver a quem de direito e receber em troca o seu valor. A quantidade de lixo gerada é muito menor e em boa parte esse lixo é valorizado, pois segue para a reciclagem.

Mas o supra-sumo acontece quando, em certos festivais ao ar livre, nos vendem uma valiosa caneca em vidro, que podemos usar para embutir quanta cerveja quisermos, e no final levar para casa e guardar.

A percentagem de embriagados será idêntica e só temos que saber guardar a caneca sem partir até nos virmos embora.

Era incrível conseguir fazer o mesmo com as notícias que nos são despejadas pelas fábricas que as produzem, como copos de plástico que se atiram para o chão…

As notícias deveriam ser servidas como a cerveja, em copos com valor, que poderíamos devolver no final de cada dia, evitando produzir e acumular lixo em quantidade.

Da mesma forma, com certas notícias, poderíamos levar o copo para casa, sobretudo quando as notícias são de boa qualidade.

Do risco de embriaguez é que ninguém se livra… ou então assumir o ato estóico de ir aos concertos mas não beber das torneiras das fábricas de cerveja e procurar aquelas barracas mesmo lá ao fundo, que só servem sumos naturais…

Da mesma série da notícia: Há um novo distúrbio alimentar: a obsessão pela comida saudável, e na sua sequência, estou seguro que em breve estarão disponíveis as seguintes parangonas:

  • Há um novo distúrbio psicológico: a obsessão pela prática do bem (madre Teresa padecia deste distúrbio…); 

  • Há um novo distúrbio espiritual: a obsessão pela crença em Deus, seja ele qual for (como sabemos, crer em deuses pode dar origem a actos terroristas); 

  • Há um novo distúrbio futebolístico: a obsessão pelo benfica campeão (somente tratada em consulta de psicologia, em que a terapia principal é feita em grupo, num estádio em que se apagam as luzes e se liga o sistema de rega, enquanto uma equipa vestida de azul entoa cânticos festivos); 

  • Há um novo distúrbio mental: a obsessão por andar a pé e fazer caminhadas (que é largamente sabido e está estudado que provoca lesões graves e é mau para a economia, só é bom para os sapateiros, que vendem mais meias solas); 

  • Há um novo distúrbio emocional: a obsessão romântica pela probabilidade de nos apaixonarmos por quem acabamos de conhecer na rua. (o que vai contra todos os estudos que afirmam que isso só pode acontecer depois de analisarmos bem o perfil da outra pessoas nas redes sociais); 

  • Há um novo distúrbio dermatológico: a obsessão por tatuagens (não basta termos todos fuças únicas, impressões digitais e registos dentários que nos tornam singulares, o que faz de nós verdadeiramente únicos nos dias que correm são as tatuagens. Funcionam como os sistemas de segurança das notas de euro, com elas é mais difícil que ande por aí alguém a fazer-se passar por nós, a não ser que seja o nosso irmão gémeo. Todos únicos, todos tatuados, como os códigos de barras dos produtos do supermercado); 

  • Há um novo distúrbio ambiental: a obsessão pelas alterações climáticas (parece que milhões de seres humanos simplesmente não conseguem compreender que um mundo mais quente, pelo menos para alguns, é muito melhor, poupa-se imensa energia e pesca-se mais. Ninguém precisa de calotas polares nem dos pinguins, focas, ursos polares e baleias, que comem o peixe todo e há muitas bocas para alimentar....); 

  • Há um novo distúrbio de mercado: a obsessão pelas compras em mercados de rua (um distúrbio grave, pela falta de higiene ao ar livre, ter que gramar com os sorrisos das pessoas que vendem os produtos que elas próprias produziram artesanalmente, as moscas, apanhar sol em demasia, a falta de lugares para estacionar… Um distúrbio muito comum entre povos ricos do norte da Europa, sobretudo Suíços, Austríacos e Alemães, entre outros, cheios de manias freaks); 

  • Há um novo distúrbio jornalístico: a obsessão por produzir notícias de merda (o que está ainda por provar, pois a maioria dos jornalistas que as produzem tem que apanhar copos do chão no final de concertos para conseguir sobreviver com dignidade…). 

As minhas desculpas por ter atirado lixo para o vosso feed, devo estar a desenvolver algum tipo de distúrbio…

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