O Teixo: guardião do tempo e da liberdade

De vida e de morte se faz esta viagem pelo planeta que habitamos. Poucas certezas são tão antigas como as que se revelam à sombra de um teixo (Taxus baccata). Esta árvore de crescimento lento é uma sobrevivente.

Em Portugal, persiste apenas em refúgios de montanha: nos vales húmidos e sombrios da Serra do Gerês, onde se encontram os maiores núcleos espontâneos, nos recantos da Serra da Estrela e, no Caramulo, apenas num exemplar isolado, incapaz de manter uma população viável. Menos de cinco mil indivíduos adultos resistem. Cada um é um cofre de memória, um pedaço de história que não podemos perder.

O teixo é uma espécie dióica: há árvores masculinas, que produzem pequenos cones discretos, e femininas, que carregam de arilos e tingem o bosque de vermelho quando chega a estação certa.  
 
Encontrar um teixo fêmea carregado de frutos vermelhos é um instante que suspende o tempo. Os arilos doces oferecem vida, mas escondem sementes capazes de matar um homem em minutos.

Esta dança entre vida e morte fascinou os povos antigos. Plínio, o Velho, na sua História Natural, relatou que na Hispânia, a península que hoje corresponde a Portugal e Espanha, houve mortes causadas por vinho guardado em recipientes de teixo.

Séculos depois, Júlio César narrou a morte de Catuvolco, rei eburão, que preferiu beber veneno de teixo a cair prisioneiro, e Orósio recorda que os Cântabros, quando a derrota era inevitável, escolheram também o veneno do teixo em vez da submissão. Cada árvore é testemunha de liberdade, resistência e coragem.

A Idade Média continuou a escrever esta história. No norte da Península, junto a igrejas e cemitérios, plantaram-se teixos que ainda hoje se erguem como sentinelas silenciosas, guardiões dos vivos e dos mortos.

Em Bragança, sobrevive o teixo da Tranguinha, classificado como Árvore de Interesse Público, com cerca de 13 metros de altura e copa de mais de 22 metros. Pensa-se que tenha mais de 700 anos, e é hoje um símbolo vivo da cidade e da sua memória. Quem por lá passa sente o peso de séculos de vento, neve e silêncio que esta árvore enfrentou.

Geri vários exemplares com porte considerável quando fui o encarregado geral do Parque de Serralves. Foi lá que assisti pela primeira vez a alguém abraçar um teixo e nunca mais esqueci.

Hoje sabemos que o simples gesto de abraçar árvores, documentado por vários estudos, pode reduzir o stress, baixar a pressão arterial e aumentar a sensação de bem-estar. No caso do teixo, a experiência é quase um rito de passagem: a energia que se sente é densa, ancestral e difícil de traduzir em palavras.

Graças a projetos como o LIFE TAXUS, as teixeiras da Serra da Estrela foram reforçadas com mais de vinte mil plantas jovens produzidas a partir de sementes locais e germinadas em viveiros como o da Malcata. 
 
Entre 2013 e 2016, estas plantações tiveram uma taxa de sucesso excecional, com perdas inferiores a dez por cento, o que prova que restaurar é possível quando se escolhem os locais e as técnicas certas. No Parque Nacional da Peneda-Gerês realizaram-se trabalhos de caracterização e planeamento para futuros reforços, preparando o terreno para que estes bosquetes continuem vivos.

Cada planta é uma centelha de futuro nas encostas de montanha, uma prova de que a paisagem pode renascer.

Abraçar um teixo ancião é abraçar o tempo. É sentir que a vida é breve e, no entanto, capaz de atravessar milénios. É um convite à contemplação e à ação. Plantar um teixo hoje é escrever uma carta para quem ainda não nasceu, é dizer-lhes que também tivemos coragem de resistir e de cuidar.
 
 






 Teixo da Tranguinha - Bragança janeiro 2024

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