Cultivo de plantas aromáticas

É fundamental para quem começa a cultivar plantas aromáticas obter o máximo de informação sobre o seu ciclo de vida, as suas necessidades de luz, água, como se propagam, quais as partes utilizadas e a melhor altura para se proceder à sua colheita.
 
Perceber que não têm o mesmo efeito “plástico” que as plantas ornamentais, porque a maioria não sofreu melhoramento, assumindo um carácter rústico e selvagem. 
 
Muitas destas espécies evoluíram nos seus habitats ancestrais sendo pastoreadas, queimadas, fustigadas, com muito pouca água e nutrientes disponíveis. 
 
Como tal, a inversão completa destas condições nos nossos jardins, vasos ou floreiras causam-lhes tantas vezes desconforto e até a morte precoce. São relativamente fáceis de cultivar, mas são também as plantas que temos de conhecer de forma mais íntima, para obter os melhores resultados. 
 
Se conseguirmos controlar o conjunto de fatores que passo a descrever, a probabilidade de obtermos bons resultados é enorme.
 
Preparação de solo
É raro quem conheça de perto o solo do seu jardim. As análises são acessíveis e podem ser feitas nos laboratórios habilitados para o efeito. 
 
Para a cultura de plantas aromáticas, deve solicitar-se uma análise sumária de solo, com recomendação de fertilização para produção de plantas aromáticas e medicinais, em modo de produção biológico. 
 
O recurso à análise do solo e a aplicação de nutrientes na quantidade aconselhada conduz a produções elevadas e de qualidade, sem poluir o meio ambiente. 
 
Através de uma análise periódica evita-se a ocorrência de desequilíbrios nutritivos, condição fundamental para a obtenção de maior resistência das culturas às doenças e maior qualidade da produção.
 
Após a receção e interpretação da análise de solo, é necessário escolher cuidadosamente quais os fatores de produção a adquirir para corrigir e fertilizar o solo.
 
Na preparação do solo deve ter-se em conta que o sistema radicular da maior parte destas plantas é pouco profundo, (sobretudo se usarmos um sistema de rega localizado), o que faz com que as raízes fiquem próximas da superfície. 
 
Os trabalhos de preparação do solo devem privilegiar a camada arável, evitando que esta seja revirada para o fundo. O terreno pode ser armado em camalhões (de forma a melhorar a drenagem e a evitar o contacto das plantas com excesso de água. 
 
Ao adubar e fertilizar, tente sempre fazê-lo tratando o solo como um todo e não de forma localizada (à cova de plantação).
 
Não se esqueça que assim que as plantas se instalam e desenvolvem, vão à procura de água e nutrientes até onde puderem estender as suas raízes, muitas vezes, para além do que tem disponível quando as plantou.
 
No caso de cultivo em vasos e floreiras, é fundamental a escolha de um substrato adequado, autorizado em agricultura biológica, rico em matéria orgânica, com uma composição que permita uma boa drenagem. 
 
Os substratos vêm já corrigidos e prontos para poderem ser cultivados. No entanto não serão competentes se não fizermos uma escolha adequada do vaso ou floreira, sobretudo no que toca à drenagem. 
 
Verificar sempre o fundo dos recipientes para garantir que se encontram perfurados, permitindo escoar o excesso de água. 
 
Adicionalmente, antes da colocação do substrato, podemos colocar no fundo dos vasos materiais que melhorem a drenagem e ao mesmo tempo que evitem com que as raízes colmatem estes orifícios, dificultando também a saída da água. Cacos, cascalho, leca, são alguns destes materiais.
 
A mudança de substrato deve ser feita no mínimo de 2 em 2 anos, não só porque se esgotam os nutrientes mas sobretudo porque a formação e acumulação de raízes que se retorcem envolvendo o torrão, têm maior propensão para apodrecer, levando as plantas à morte.
 
Escolha das espécies de acordo com o terreno
A escolha cuidada do melhor local para cada espécie é fundamental para a sua correta adaptação ao terreno. Normalmente quando os terrenos são inclinados, têm tendência em acumular água proveniente de escorrências, nas zonas de menor gravidade. 
 
Nestas zonas podemos plantar hortelãs, cidreira, salsa, cebolinho, pois são espécies que se adaptam melhor a estas condições de humidade. As zonas mais altas e secas serão mais indicadas para espécies como tomilhos, segurelha, alecrim e alfazema.
 
pH
A maior parte das PAM gosta de um pH próximo do neutro. Quando os solos são ácidos, podemos aumentar o pH, adicionando calcário. 
 
Já quando são básicos ou alcalinos, podemos baixar o pH, adicionando matéria orgânica. Estes procedimentos poderão ser realizados após as analises nos indicarem as respetivas quantidades necessárias a aplicar.
 
Clima
Na Península Ibérica temos um clima ideal para produção de PAM’s. A prová-lo o facto de termos uma das maiores biodiversidades do Planeta em espécies espontâneas de PAM, ou seja, evoluíram em contexto durante milhares de anos. 
 
Ainda assim com as espécies exóticas (erva-príncipe, manjericão) temos que ter algum cuidado, pois são muito sensíveis ao frio. 
 
Plantar próximo de uma parede ou muro bem expostos é uma boa solução porque estes acumulam o calor durante o dia e libertam-no durante a noite, ajudando as plantas a suportar as agruras do clima.
A plantação em vasos grandes, sacos de cultivo ou floreiras é também uma boa solução, pois permite mover as plantas facilmente, retirando-as para locais protegidos quando for necessário.
 
Exposição solar
Para a maioria das espécies a cultivar será necessário garantir a melhor exposição solar possível. A maior parte destas plantas são de exterior, pelo que o seu cultivo dentro de casa levá-las-á a perecer em pouco tempo. 
 
Ainda assim dentro de casa, desde que em local bem exposto e arejado, será possível cultivar com algum sucesso manjericão, cebolinho, erva-príncipe, estragão francês, limonete ou hortelãs.
As varandas, dependendo da sua exposição solar e arejamento, podem ser bons ou maus sítios para plantas aromáticas. Se forem muito sombrias ou demasiadamente quentes e secas ou expostas ao vento, são péssimas para que se desenvolvam saudavelmente.
 
Controlo de infestantes
O controlo de infestantes é um dos principais problemas para quem cultiva estas plantas no jardim. Existem diversos métodos para o fazer, mas prefiro a utilização de telas de solo, cobrindo a superfície do solo, na totalidade ou em parte. 
 
É um método que apresenta enormes vantagens, pois reduz drasticamente a mão de obra associada ao controlo de infestantes, mantem a temperatura do solo ligeiramente mais elevada, mantém a área de plantação limpa (a água da chuva escorre no sentido da gravidade, levando consigo areias, pó, partes mortas de plantas), contribuindo para a prevenção de pragas e doenças.
 
Convém no entanto garantir que a tela fica o mais esticado possível! A água permanece no solo durante mais tempo, pois a evapotranspiração não é tão acentuada. 
 
Assim será necessário regar muito menos. As telas protegem os solos dos episódios de chuva violentos, tão típicos no nosso país. Evitam escorrimentos de superfície acentuados, minimizando a erosão superficial do solo, bem como também a lixiviação de nutrientes. 
 
Não havendo contacto das plantas com o solo, estas não apodrecem na sua parte inferior, sendo maior o rendimento na altura da colheita.
 
Ainda assim, as telas devem ser mantidas limpas e qualquer rasgão que surja deve ser remendado. Tem como inconveniente serem inestéticas, mas em área pequenas, podem ser cobertas com cascalho ou estilha de madeira de folhosas.
 
Rega
O sistema de rega mais indicado é o por tubos de rega gota-a-gota. A rega por aspersão produz enormes perdas de água e favorece o desenvolvimento de doenças. A mangueira (rega manual) também envolve desperdício e perda de tempo.
 
Regar de manhã cedo ou ao entardecer, nunca ao sol. Um programador permite regar nas melhores alturas, a fim de evitar a forte evaporação provocada pelo sol e pelo vento. As regas devem ser espaçadas para permitir infiltração de água e estimular as raízes a procurá-la em profundidade. 
 
Os solos argilosos e arenosos regam-se de formas diferentes. Nos arenosos, maior frequência e menos quantidade para que menos água fique fora do alcance das raízes, por infiltração.
 
Nos vasos e floreiras a gestão da água faz-se de forma distinta em relação às plantas cultivadas nos jardins. As plantas em vasos tem tendência a desidratar mais rapidamente. 
 
Além disso, não podem estender as suas raízes à procura de água, estão limitadas ao regador que há em cada um de nós. E claro, há quem regue muito, havendo também quem regue pouco... pedem-me regularmente uma fórmula para regar, com perguntas do género: “quantas vezes devo regar por semana?”.
 
Não se responde responsavelmente a uma pergunta destas, sem sabermos quais as plantas a regar, em que tipo de solo ou substrato estão plantadas, se há vento, muito sol, etc. 
 
Cabe a quem toma a decisão de regar saber observar a cada momento estes fatores, interpretá-los corretamente para depois dimensionar a rega e por fim ajuizar da sua frequência, que poderá ser muito variável.
 
Quando se começa a ganhar o gosto pelo cultivo, a rega é geralmente um dos fatores mais limitantes, aquele que faz a diferença entre sucesso e insucesso, sobretudo para quem as cultiva em vasos. 
 
Aconselho a agir da seguinte forma: 30 minutos depois de regar as suas plantas, recolha com a mão um bom pedaço de substrato e aperte na mão. Se do torrão que formar escorrer muita água, significa que está encharcado, se este torrão se desfizer, está seco e a precisar de água com urgência. 
 
Se no entanto este se mantiver coeso sem escorrer muita água, então tem desta quanto baste, já deu o passo fundamental na aquisição de uma das mais difíceis sensibilidades a desenvolver por quem cuida de plantas, que é regar corretamente.
 
Drenagem
A disposição do terreno em camalhões é uma estratégia de drenagem, já que a água da chuva em excesso tem tendência a escorrer para as zonas de menor gravidade, mantendo a área de cultivo livre de encharcamento. 
 
Nos vasos e floreiras, antes de adquirir, verificar se estão perfurados e os drenos são em grande número e de tamanho suficiente para garantir a saída do excesso de água. 
 
Se a drenagem não for eficiente, aumenta e muito a probabilidade de as nossas plantas pararem o seu desenvolvimento, sofrerem com doenças, e eventualmente morrerem.
 
Podas/colheitas
Juntamente com a boa gestão de água de rega, a poda assume-se como a operação mais importante na manutenção destas plantas. 
 
Nestas plantas a poda é na maior parte das vezes o momento da colheita. O corte regular contribui para estimular novas rebentações, evitando assim a formação de caules mais lenhosos e o envelhecimento precoce da planta.
 
Recomendo vivamente que ao colher uma planta se recorra ao método de corte mais adequado para cada uma delas. Como exemplo, todas as hortelãs devem ser cortadas rente ao solo.
 
Cortando a planta toda, os crescimentos serão uniformes, e os cortes seguintes de maior qualidade. Já na erva-príncipe, o corte das folhas deve ser sempre feito acima do ponto de inserção das folhas no caule, cerca de 3 a 4 dedos. Se cortarmos abaixo deste ponto. A planta não morre, mas esse caule não voltará a rebentar.
 
Há quem argumente que se colher/podar desta forma, colhe mais do que aquilo que necessita a dado momento. Em alternativa, se deixarmos parte da planta por cortar, essa parte envelhecerá e terá também maior probabilidade de ser atacada por pragas e doenças. 
 
E sempre podemos congelar ou secar para utilizar posteriormente, na época mais desfavorável, quando as nossas plantas param de crescer ou não apresentam a melhor qualidade.
 
Plantação
Ao plantar, calque muito bem as suas plantas, utilizando os dedos ou o cabo de uma ferramenta. Se ficarem espaços vazios à volta das raízes, estas podem apodrecer. 
 
Nunca enterre mais do que o tamanho do próprio torrão. Se o fizer, a planta poderá morrer. Se esta for muito alta, deve ser segura com a ajuda de um tutor, não enterrando em demasia. 
 
Se o espaço de cultivo é grande, agrupe as plantas por espécies, tenha em conta o porte de cada uma delas, bem como o compasso a estabelecer, para que não concorram entre si pelo espaço, pela luz e água.
 
A raiz encontra-se muitas vezes demasiado desenvolvida, enrolando-se no torrão, estando o seu desenvolvimento limitado ao tamanho do vaso. 
 
Quando isto acontecer, antes de plantar corte e solte vigorosamente parte destas raízes (sobretudo as que se formam na parte inferior do vaso ou as mais lenhosas), de forma a estas que consigam prosperar no novo meio. 
 
Se não o fizer as plantas não se desenvolverão e muitas acabarão mesmo por morrer. Proceda ainda à remoção da parte superior do torrão onde se encontra a fina camada propensa ao desenvolvimento de infestantes e algas. 
 
Poupará tempo e facilitará ainda a penetração de água e nutrientes no solo. Transplante sempre as plantas que acabou de adquirir para vasos maiores para que estas possam expandir as suas raízes, desenvolvendo proporcionalmente a sua parte aérea. Desta forma irá garantir plantas saudáveis e um maior número de cortes.
 
Não se deixe enganar pelo porte que as plantas apresentam no momento que as comprou. São normalmente vendidas em pequenos vasos, mas podem vir a assumir um porte considerável. 
 
À plantação devemos estabelecer um compasso entre plantas, suficiente para que quando se desenvolvam não concorram entre si. Espaço vazio no dia da plantação será rapidamente preenchido se às plantas for deixado espaço para o fazerem. Desta forma prevenimos também pragas e doenças.
 
Utilize taças ou floreiras grandes para estabelecer um pequeno Cantinho das Aromáticas, com diferentes espécies que poderá ir utilizando diariamente ao longo da estação de crescimento. 
 
Muitas destas plantas podem cultivar-se em conjunto, convivendo bem umas com as outras. Todas as hortelãs devem cultivar-se isoladamente, por serem invasivas.
 

 

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